
Viagem – O Toninho
Uma vez viajamos de carro para Tiradentes, Minas Gerais, para uma festa de casamento.
A certa altura do caminho, vimos uma placa muito bem feita dizendo: “Complexo de Serviços do Toninho – 20 Km” acompanhada dos conhecidos ícones indicando combustíveis, borracheiro, etc.
Pouco mais adiante, uma nova placa no mesmo padrão informando que estávamos agora a apenas 15 km do tal Complexo de Serviços, acompanhada de mais ícones. Várias outras placas se sucederam até a derradeira “Complexo de Serviços do Toninho – Entrada a 500 m”.
A estrada sinuosa e com pista simples cortava a mata no alto de uma planície e descia com uma suave curva à direita onde se via, logo adiante, o tão esperado Complexo. Alí do alto, percebemos que o lugar atendia à tudo o que era informado nas placas com notável capricho e organização. No centro, as bombas de combustíveis com seus funcionários bem uniformizados. À esquerda estavam as praças de serviços com o borracheiro, eletricista e a loja de autopeças. À direita estavam o restaurante – gaúcho, claro, mas com várias opções alacarte (sim, escrito dessa forma) – a loja de souvenires, outra com produtos da fazenda, o playground e ao fundo, às margens do lago, uma construção já em fase final, com uma placa onde se lia: “Pousada – Em breve”.
Tudo cercado pela bela mata nativa e florida da Serra da Mantiqueira.
Foi quando alguém disse: “É… o Toninho vai longe!”
Essa frase rendeu vários quilômetros de especulações sobre o futuro do Toninho e seu Complexo. Calculamos que dali a algum tempo passaríamos por lá novamente e a tal pousada já estaria transformada em hotel.
A praça de serviços daria lugar a um moderno mini-shopping de produtos e serviços automotivos, além de mercado, padaria, doceria…
O restaurante, internacional e com várias opções da irrepreensível cozinha mineira, já estaria dentro do hotel com uma linda varanda avançando sobre o lago, agora bem maior do que era.
Mais algum tempo depois e o tal Complexo já estaria alçado à categoria de Resort com campo de golfe, inúmeras atividades ligadas à ecologia e várias estrelas dos guias especializados.
Pois é, o Toninho vai longe. Pelo menos na nossa imaginação.
NE – “Viagem” é uma crônica de Graciliano Ramos – Editora José Olympio, 1954; (obra póstuma)