O Retrato – O Brasil Visto de Cima

Cotidiano

O brasileiro é um apaixonado por natureza.  E são várias as razões que o fazem se orgulhar do país. O Brasil foi um dos primeiros a erradicar a paralisia infantil; Temos a vasta floresta amazônica que, dizem, é o grande pulmão do mundo; Somos os maiores produtores e exportadores de café; Temos o melhor programa de combate e prevenção da AIDS, segundo a ONU; Somos o país do futebol, com cinco títulos mundiais, o maior fornecedor de craques para o mundo e muitas outras coisas que não caberiam descrever aqui.

O Brasil é realmente grande em todos os sentidos, mas o ufanismo exagerado atrapalha nossas metas de desenvolvimento. O país tem falhas graves que precisam ser resolvidas e isso reflete diretamente no comportamento da população.

Sim, a paralisia infantil foi erradicada porque Albert Sabin lutou muito para isso. A famosa “gotinha” salvou muitas crianças da doença. Além do que ele era casado com uma brasileira.

Sim, é mentira que a amazônia seja o pulmão do mundo, mas muito do clima mundial depende dela e mesmo assim não conseguimos acabar com o desmate da floresta.

Qualquer aprendiz de jornalista consegue identificar as regiões onde são extraídas as madeiras nobres, mas pouco se consegue fazer para interromper isso.

O café, então, é uma piada. Quem conheceu a Europa nos anos 70 deve se lembrar dos luminosos que enfeitavam a fachada dos principais bares de lá com a inscrição: “Café do Brasil”. Isso já faz tempo e agora só se fala do café colombiano, a despeito de sermos os maiores produtores e exportadores do produto.

E, no futebol, quem diria, já fomos alvo de duas vergonhas mundiais: Uma na final de 1950, quando perdemos para o Uruguai que, a rigor, não é nada de mais em termos de futebol. Mas a segunda… foram os três a zero para a França em 1998 com um time visivelmente “chapado”. Nem se discute aquele tal sete a um…

Está na hora de começar a falar sério. Quando alguma coisa acontece aqui, como as manifestações de 2014, o mundo (especialmente a Inglaterra) não demora a mostrar as depredações e os perigos de viver no terceiro mundo. Eles parecem se esquecer que essas coisas estão sujeitas a acontecer em qualquer lugar, como nos Estados Unidos e seus policiais brancos matando negros desarmados, na Grécia com o FMI, a crise na Itália, o populismo na França…

Quando um estrangeiro é assassinado em algum local turístico do Brasil, os jornais quase insinuam que, afinal, isso é normal num país do terceiro mundo.

A impressão que o estrangeiro tem do Brasil é um retrato daquilo que sempre fizemos (ou deixamos de fazer). Durante a chamada “política da boa vizinhança” do Presidente Roosevelt, o Brasil foi retratado por Walt Disney como o papagaio Zé Carioca. Para quem não sabe, esse personagem mora na favela, jamais trabalha, é um malandro declarado e vive do “jeitinho brasileiro(veja outro artigo sobre esse tema).

Isso diz tudo.

Vivemos num castelo de fadas. O Brasil não é o favorito de todos, o samba não é a melhor música, as praias do nordeste não são as mais paradisíacas e o brasileiro nem é assim tão hospitaleiro, vide a guerra civil em que vivemos. Até a paisagem é o retrato do povo.

E a vida continua.

NE – “O Retrato” é um conto de Nikolai Gogol.

 

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