Angústia – Museu da Ocupação Nazista e Soviética

Política

Em Riga, capital da Letônia, está localizado o “Museu da Ocupação Nazista e Soviética”.
Não por acaso, eles fazem questão de enfatizar a conjunção “e”, pois consideram duas forças de ocupação com a mesma brutalidade.
Como em todo museu, esse também possui uma loja de souvenires, se é que podemos falar assim, com uma não muito simpática senhora na faixa dos setenta anos atendendo aos turistas. A cada pergunta sobre algum livro ou souvenir, a tal senhora insistia em “empurrar” um certo DVD com a história das ocupações.
Já um pouco constrangido com a insistência, eu acabei por adquirir o tal DVD. E ele é terrível.
Ele contém uma história pouco contada dos países do Báltico com vídeos de depoimentos estarrecedores, como o de Bernard Shaw, onde ele diz com todas as letras da necessidade de manter a população saudável “descartando” os doentes, idosos, deformados e etc… Lembra a “A Revolução dos Bichos” de Orwell (*).
A Segunda Guerra Mundial levou os Russos a anexar os países Bálticos (Estônia, Letônia e Lituâna) e impor as reformas socialistas à população. Em 1941, com a ascensão da Alemanha, os nazistas quebraram o pacto de não-agressão firmado com a União Soviética menos de dois anos antes e invadiram os três países. Foram recebidos com flores pelos lituanos, que acreditavam estarem sendo libertados do jugo soviético. Os hanseáticos mal sabiam que essa ocupação era apenas o início da caminhada nazista para a conquista da União Soviética, a chamada Operação Barbarossa. A ocupação nazista durou até 1944 e os cidadãos passaram pelos piores momentos da sua história com deportações e assassinatos.
Só durante esse período foram assassinadas cerca de 300 mil pessoas, a maioria judeus, e muitos deles enterrados em covas coletivas no Bosque Panerai, na Lituânia (veja a galeria de fotos aqui), por onde o trem nazista passava carregado de prisioneiros. O trem parava por alí e os soldados alinhavam os prisioneiros nas bordas das covas e os metralhavam. Simples e rápido.
Mal deu tempo para comemorar o fim da guerra, e a derrota nazista, e os soviéticos voltaram a ocupar o Báltico com ainda mais brutalidade a ponto de quase dizimar a cultura desses países com mais chacinas e ainda mais deportações.
Depois do esfacelamento soviético em 1991 e a consequente independência desses países, as covas do Panerai foram redescobertas e ganharam placas, estátuas e obeliscos para os jazigos (foto), com orações e histórias dos assassinatos, além de um pequeno museu com indicações das dezenas de covas coletivas alí encontradas.
O Panerai não foi o único local desse tipo. Vários outros bosques também tiveram a mesma utilidade.
De volta ao DVD, há também os detalhes do genocídio ucraniano pelos soldados soviéticos antes de 1941. Conta-se que mais de sete milhões de ucranianos morreram de fome, pois as vastas plantações eram destinadas à alimentação dos soldados soviéticos e nazistas.
Fica fácil entender porque o museu se refere à Alemanha e a União Soviética da mesma forma.

NE – “Angústia” é uma obra póstuma de Graciliano Ramos

(*) Aliás, um episódio bem brasileiro que merece destaque foi quando Eduardo Suplicy tentava encontrar com Lula e este fugia dele. Suplicy, da velha guarda do partidão e em franca decadência, que teria seu auge poucos anos mais tarde quando ele não conseguiu se reeleger senador, estava aflito e chateado por não conseguir o encontro. Lembra o cavalo do livro de Orwell. Para quem não lembra ou não leu, o cavalo, depois de puxar muito peso, carregar muita lenha e trabalhar muito pelo bem comum, foi simplesmente vendido ao matadouro quando envelheceu e não servia mais à comunidade.

 

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