O Cão sem Plumas

Cotidiano

E Ghiggia morreu. Lembra dele ? Aquele que fez o gol que calou o Maracanã em 1950 e morreu em 16 de julho, no mesmo dia em que se comemorou os 65 anos da “tragédia”.

Não foi apenas o Uruguai que comemorou essa data. Aqui no Brasil as rádios, TVs e a mídia em geral não pararam da fazer comparações com a coincidência. Na BandNews FM parecia que o Brasil havia faturado o título, tamanho o espaço que deram para isso.

Poucos dias antes, em 8 de julho, a mesma mídia alardeava o aniversário de um ano dos 7 a 1. Isso sem falar de Zidane ou Paolo Rossi, tratados com brilho excessivo sempre que passam pelo Brasil.  Não sei se isso é masoquismo do brasileiro ou sadismo da mídia.  Que coisa !

Será que a Suécia também comemora a derrota de 5 a 2 para o Brasil em 1958 ? Ou a Itália, nos 4 a 1 para o Brasil em 1970 ? A própria Alemanha de 2002 ?  Será que esses países recebem os carrascos brasileiros com as mesmas reverências ?

Parece que a mídia esportiva não tem mais nada a fazer além de trazer à tona essas coisas que já deveriam ter virado história. Aqui todo mundo é bem recebido e com honras duvidosas, o que dá a entender que o brasileiro não tem orgulho algum ou é o tal complexo de vira-latas.

Segundo Nelson Rodrigues, “por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.   E continuava: “o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima”.   Também Monteiro Lobato mostrou-se pessimista com o potencial do brasileiro.

O The New York Times escreveu em 2004:
“… O Brasil sempre aspirou a ser levado a sério como uma potência mundial pelos pesos-pesados, e portanto dói nos brasileiros que líderes mundiais possam confundir seu país com a Bolivia, como fez Ronald Reagan, ou que desconsiderem uma nação tão grande … como “não sendo um país sério”, como fez Charles de Gaulle.”

É verdade que o país tem o enorme desejo de ser reconhecido no mundo como nação grande e influente. Ainda tenta fazer parte do conselho de segurança da ONU, mas tropeça na pouca auto-estima e atola na retrógrada diplomacia dos últimos anos, que deixou até as embaixadas à míngua.

Isso sem falar no populismo, que só leva o povo a ter esperanças que nunca se concretizam.

É hora de parar de chorar os reveses e deixar o passado na história.

NE: “O Cão sem Plumas”, 1950, é um poema de João Cabral de Melo Neto.

 

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