A Visão do Passado

Diversos

A população católica no Brasil caiu de 74% em 1994 para 57% em 2013, pouco antes da visita do Papa Francisco ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude.  Noa anos 70, beirava os 90%.
Essa “ladeira abaixo” pode ser explicada por várias razões que vão desde o antagonismo nas crenças até a dificuldade da Igreja em se adaptar aos tempos.

Por exemplo, Maria, Mãe de Jesus, é uma das figuras mais importantes do cristianismo. Já Maria Madalena é citada nada menos que doze vezes no Novo Testamento, o que lhe dá enorme destaque num livro de homens, e o principal: em nenhum lugar ela é chamada de prostituta. Madalena teve um lugar de bastante destaque entre os pupilos de Jesus, que a Bíblia e a própria Igreja Católica preferem ignorar. Mesmo assim, a Igreja Católica nega terem havido mulheres entre os apóstolos de Cristo, não permite que as mulheres cheguem ao sacerdócio e utiliza de todos os mecanismos possíveis para manter a hegemonia masculina. O documento “Ordinatio Sacerdotalis”, editado por João Paulo II em 1994, define o lugar da mulher na Igreja Católica justificando que a “ausência da ordenação não a faz menos digna”.

Na outra ponta está a demora em adaptar-se aos tempos. Em 1611, Galileu foi obrigado a se retratar perante seus inquisidores por ter defendido a teoria heliocêntrica, contrária à da Igreja que colocava a Terra como o centro do universo. Foram necessários quase quatro séculos até que, em 1992, o Papa João Paulo II reconheceu formalmente o erro na condenação de Galileu.

Além disso ainda temos o celibato, o homossexualismo, o divórcio… Este último não poderia ser mais paradoxal já que boa parte dos casais que frequentam a Igreja católica estão, no mínimo, no segundo casamento. Isso sem contar as bençãos que são dadas a esses mesmos casais, apesar da orientação em proibi-los de receber a comunhão e por aí vai…

O crescimento das igrejas evangélicas demonstram que a religião, ou a fé, precisam se adaptar aos tempos. O homossexualismo, por exemplo, é uma realidade que começa a se firmar como um direito da pessoa e não mais uma condição excluída da sociedade.   Esse deve ser o único ponto em que as igrejas concordam em não aceitar.

O fim do celibato então, é coisa que o Vaticano não quer nem pensar. O Concílio de Trento (1545-1563) definiu a obrigatoriedade do celibato para todo o clero e é até compreensível não falar nisso dada a enorme logística que seria necessária para acabar com a proibição. Dá para imaginar um padre casado e sujeito a quase tudo aquilo que a Igreja Católica repudia ?

O avanço das igrejas protestantes na Europa (e no mundo todo) é uma realidade que não pode ser ignorada pelo Vaticano.
A Igreja Católica precisa se reformular. Não adianta apenas fazer as tais Jornadas da Juventude a cada três anos para aproximar os jovens da Igreja. A Igreja precisa de uma reforma estrutural e não pequenos sinais para mostrar boa vontade. A escolha de um papa fora do eixo europeu, mais precisamente na América Latina, é um bom começo, mas não é nem perto do suficiente.

Os fiéis precisam dizer o que querem da Igreja Católica. E a Igreja precisa ouvi-los antes que seja tarde.

 

NE: “A Visão do Passado”, 1887, é um conto de H. G. Wells

 

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