
Lucrécia Borgia
Ela nasceu em Subiaco, em 1480, filha do Cardeal Rodrigo Borgia e Vannozza Cattanei. O pai foi eleito papa Alexandre VI e considerado um dos piores e mais pecaminosos da história.

Há quem diga que Lucrécia não era nada de mundana, corrupta, assassina de maridos ou coisas assim. Dizem que sua culpa foi ter nascido numa rica e fortíssima família de corruptos e sanguinários. Sua fama se deve às intrigas de seu pai e ela era astuta e habilíssima diplomata. Mesmo assim, existem relatos de que usava um veneno conhecido como Cantarella, uma variação do arsênico, para envenenar quem não fosse de seu agrado. Daí a fama.
Em 12 de junho de 1493, Lucrécia Borgia se casou com seu primeiro marido, Giovanni Sforza, Senhor de Pésaro. Na ocasião, ela tinha 13 anos incompletos e o noivo era bem mais velho.
Esse tipo de casamentos não era algo incomum naquela época, porque ainda não não existia, no renascimento, a diferença de fases como infância, adolescência e adultos. Lucrécia, entretanto, não casou apenas com um ilustre membro da casa dos Sforza, e sim, com um filho bastardo de Constanzo I, viúvo e sem herdeiro legítimo.

Poucos retratos dela sobreviveram até os dias de hoje. Entre eles, há um famoso afresco de Pinturicchio, em que ela aparece representando Santa Catarina de Alexandria e, com base nessa obra, podemos concluir que ela “Uma bela mulher de expressão doce e ingênua, pele clara com um rosto bem delicado, cabelos loiros”. Havia até uma mecha de seu cabelo, guardada na Biblioteca Ambrosina, em Milano, que foi encontrada entre as correspondências de Pietro Bembo, que era seu amante enquanto era casada com Afonso d’Este.
Bonita e com boa educação, Lucrécia causou boa impressão na família Sforza. Porém, quando se casou com Giovani, ela era pouco mais que uma adolescente. Os cônjuges passaram os dois primeiros anos do casamento vivendo separados.
A união durou pouco. Seu pai, o papa Alexandre VI e seu irmão César Bórgia, queriam Lucrécia para um acordo mais vantajoso e Giovani Sforza não queria saber de anular o casamento e muito menos concordar com a exigência de ter relações sexuais na frente de testemunhas.

Forçado a concordar e constrangido, ele ainda caluniou a esposa alegando que ela era incestuosa e tinha relações com o próprio irmão e o pai, mas aceitou um dote da moça e concordou que ela era ainda virgem (ou ilibada). Só que não houve nenhum exame que comprovasse isso.
Finalmente e em segredo, Lucrécia engravidaria de Pedro Calderón, mensageiro de Alexandre, e foge para um convento para ter o filho secretamente. Não existe nenhuma documentação que cite alguma outra relação sexual de Lucrécia.
O bebê nasceu deformado e foi entregue a César, seu irmão, que o declarou como “infante Romano” ou filho natural. Em seguida o papa emite uma nova bula desmentindo essa declaração.

Em 21 de julho de 1498, Lucrécia se casou com Afonso de Biscegli, filho do rei de Nápoles e aliado dos Bórgias, e se apaixonou por ele. Engravidou novamente e Afonso, com medo de César, que já havia tentado matá-lo, refugiou-se na casa de parentes, abandonando a mulher grávida.
Em 1499, o papa nomeia Lucrécia como governadora de Spoleto e Foligno. Ela entrou na fortaleza de Spoleto e, logo, seu marido Afonso se juntou a ela. Lucrécia conseguiu manter a paz na cidade e deu à luz ao seu segundo filho, a quem chamou de Rodrigo.
Em 15 de julho de 1500, o casal foi atacado quando retornava a Roma. Afonso foi gravemente ferido e Lucrécia cuidou dele exigindo sempre os melhores médicos de Nápoles, bem mais confiáveis, e ele se recuperou.
Mas em 18 de agosto e a mando de César Bórgia, o assassino Michelotto Corella, consegue matar Afonso.
César negou o envolvimento, mas acabou confessando o crime justificando que apenas se vingou de um atentado perpetrado por Afonso, jamais comprovado.

Furiosa, Lucrécia adoece e tem febre altíssima. Insatisfeito com toda essa situação, o papa combina mais um casamento de Lucrécia, desta vez com Afonso D’Este. Lucrécia já havia recusado um casamento com o Duque de Gravina e, questionada, ela teria afirmado: “porque meus maridos são vítimas“.
Ela acabou se casando com o não muito animado Afonso D’Este, foi para Ferrara (onde foi muito bem recebida, exceto pela cunhada Isabela D’Este) e gerou sete filhos, sendo que três morreram logo após o parto. O marido a traía com frequência, mas era nela quem ele confiava. Tanto que, nas suas ausências, era ela a regente do ducado de Ferrara.

Alexandre VI morreu em 18 de agosto de 1503, em Roma. Com a eleição do novo papa Julio II Della Rovere, Lucrécia se manteve próxima (pode-se dizer assim) de Francesco Gonzaga, Marquês de Mantua, aliado do atual papa e inimigo dos Este, mas ele se recusou a iniciar uma nova guerra com as famílias de Ferrara. Mais tarde com a morte de Julio II, foi eleito o papa Leão X, e ele fez de Pietro Bembo seu secretário particular, o que consolidou a paz entre Ferrara e o Vaticano.
Lucrécia Borgia morreu de septicemia aos 39 anos, em 24 de junho de 1519 e, verdade ou não, é tida como uma das mulheres mais cruéis da história.
A história é bem mais longa e intrincada do que este brevíssimo resumo. Leia-a e julgue !
Texto de Renzo Grosso, com adaptações.