
Roald Amundsen Ou Um Brinde Aos Cães
O explorador Roald Amundsen nasceu em 16 de julho de 1872, em Borge, perto de Oslo (Noruega) que então se chamava Cristiania. Era um homem inteligente, líder nato, arrogante e impaciente, mas jamais deixava a segurança de lado e planejava tudo como ninguém. Ele ainda seguiu a carreira de médico, como queria sua mãe, mas o desconhecido sempre chamou sua atenção. Quando Fridtjof Nansen retornou da primeira travessia da Groenlândia com esquis, Amundsen decidiu tornar-se um explorador polar. Ele tinha 18 anos.

Decidido a enfrentar as péssimas condições de exploração dos polos terrestres, ele buscou patrocínio nos Estados Unidos e o conseguiu com o milionário e explorador Lincoln Ellsworth, e dedicou-se totalmente à navegação e exploração.
Esse aprendizado prático viria com a navegação pela passagem Noroeste, ao sul da Groenlândia, onde ele notou que o polo Norte Magnético havia mudado em cerca de 30 milhas desde que havia sido calculado em 1831. Ele foi o primeiro a registrar o movimento dos polos.
Depois da passagem Noroeste, Amundsen resolveu ir para o Polo Norte. Só que, em 1909, foi noticiado que Frederick Cook já havia alcançado o polo e, mais tarde, também Robert Peary. Isso fez com que ele mudasse seus planos e, a bordo do lendário navio de Fridtjof Nansen, o Fram, saiu de Cristiania em direção à Antártida em 1910.

Amundsen era obcecado e não tinha muita paciência com as coisas, mas era bastante cuidadoso e planejava muito bem tudo o que podia. A viagem pela Antártida para alcançar o polo Sul era muito mais difícil do que qualquer um poderia imaginar e, portanto, o bom planejamento era fundamental.
Com sua aventura pelo Ártico, na passagem Noroeste, ele teve contato com povos locais, os esquimós, e aprendeu muito. Por exemplo, ele aprendeu que os esquimós não eram preguiçosos como os britânicos os chamavam. Eram lentos, sim, mas por uma boa razão: o modo de vida numa região como aquela, exigia determinadas regras e, uma delas, era não fazer nada com pressa para não gerar transpiração. O suor do corpo por baixo das pesadas vestes e naquelas condições extremas, poderia ser fatal !
Ele também aprendeu a lidar com o mais eficiente meio de transporte daquela época: os trenós puxados por cães.
Com base em várias outras coisas que ele aprendeu e passou a usar, eles acamparam na plataforma Ross, já na Antártida, também conhecida como baía das Baleias. Planejaram o que deveria ser feito e determinaram locais para depósitos com alimentos, enquanto esperavam pela partida que estava prevista para a primavera.

Enquanto isso, uma outra expedição, acampada na mesma plataforma Ross, mas a 600 km de distância de Amundsen e liderada por Robert Falcon Scott, planejava seguir o caminho descoberto por Ernest Shackleton, passando pela geleira Beardmore. Amundsen, por outro lado, teve que procurar seu próprio caminho através dos montes Transantárticos.
Amundsen, juntamente com Olav Bjaaland, Helmer Hanssen, Sverre Hassel e Oscar Wisting, atingiu o polo em 14 de dezembro de 1911. Era uma tarde ensolarada com temperatura ambiente de -23 °C e poucos ventos. Ele ergueu uma tenda e fincou a bandeira da Noruega. Mais de um mês depois, Scott chegou ao mesmo local e encontrou a bandeira norueguesa fincada por Amundsen e, dentro da tenda, uma carta relatando a chegada.

Amundsen retornou em segurança à plataforma Ross no dia 25 de janeiro de 1912. Scott morreu a cerca de 8 quilômetros da base, tentando retornar. Seu corpo foi encontrado congelado junto com seu diário, assim como o corpo de um de seus companheiros. Haveria ainda um terceiro companheiro de Scott que, muito machucado, abandonou o acampamento para morrer sozinho e dar uma chance aos demais. A grande diferença de tudo é a experiência que Amundsen acumulou e soube usar. Ele se preparou da melhor forma possível e usou os melhores cães de trenó, o que lhe garantiu uma viagem com bem menos dificuldades.
Acontece que Scott era o grande explorador britânico e muitíssimo reconhecido pela Real Sociedade Geográfica Britânica. Dizem que, ao comemorar jocosamente chegada de Amundsen ao polo, somada à trágica morte de Scott, o que se ouviu foi: “Um brinde aos verdadeiros heróis dessa conquista da Antártida: Os Cães“. Amundsen ficou furioso.
Mais calmo e, com a certeza de que os britânicos estavam apenas com “dor de cotovelo“, ele resolveu fazer o primeiro sobrevoo do polo Norte. Para isso ele se associou ao engenheiro italiano Umberto Nobile e partiram para a travessia do Ártico no dirigível chamado Norge, que foi projetado por Nobile. Ao alcançar o polo, eles lançaram as bandeiras dos Estados Unidos, Noruega e Itália. Só que eles descobriram que, em 9 de maio, o polo Norte já havia sido sobrevoado pelo aviador norte-americano Richard Evelyn Byrd.

Mas isso não o abalou. Pouco tempo depois, Roald Amundsen partiu mais uma vez para o Ártico com o objetivo de encontrar o italiano Umbero Nobile que, com um novo dirigível chamado Itália, caiu próximo ao arquipélago Svalbard. Não se sabe se ele encontrou o italiano, mas presume-se que ele tenha morrido no dia 18 de junho de 1928 em um acidente com o seu hidroavião Latham 47, no oceano Ártico. Nem o hidroavião de Amundsen, nem seu corpo jamais foi encontrado.
Texto de Renzo Grosso.
NOTAS:
1- As equipes de resgate encontraram rapidamente a barraca de Scott, mas não a tempo de encontrá-lo vivo. Na base, eles encontraram alimentos, óleo e vários itens que eles poderiam utilizar para sobreviver.
2- Recentemente, em 2014, uma nova expedição finlandesa localizou o diário de um dos companheiros de Scott, George Murray Levick que, junto com outros cinco, sobreviveram à tragédia porque seguiram por um caminho diferente, pelo litoral, onde realizaram experimentos científicos. Eles sobreviveram ao inverno antártico comendo pinguins e focas.
Levick faleceu em 1956.
3- Também em 2014, eles encontraram garrafas de whisky da expedição de Shackleton (1907-08) enterradas na cabana e vários negativos perdidos de sua passagem pelo Mar de Ross (1914-17).
