Transparências – O Adesismo

Cotidiano

O voto é a grande arma do povo. Mais um daqueles velhos chavões onde acreditamos que os políticos mudam ao sabor da vontade popular. Votamos no seu pensamento, nos seus ideais e tentamos nos convencer que eles irão fazer tudo aquilo que prometem.   Votar em alguém, seja na pessoa ou no partido, não representa mais nada. Essa pessoa pode (e vai) mudar de posição e nos deixar falando sozinhos.

O mundo está cheio de adesistas, ou aqueles que se convencem rapidamente a respeito de uma nova proposta, especialmente quando esta lhe convém.

São vários os partidos que querem o governo e outros tantos que só lhes dão a sustentação necessária. Estes últimos estão sempre ameaçando lançar um candidato com a única e exclusiva função de pressionar o governo a mantê-los ali mesmo, na mais adesista das funções.

Inimigos políticos declarados se encontram nos becos das Assembleias ou do Congresso para formar aquela aliança democrática, dizem, em benefício do país, mas que prestará a muitas outras coisas não tão declaradas.

A conveniência, e não o voto, é a grande arma de verdade. Só para citar um exemplo, a Presidenta Dilma Roussef não queria ver José Maria Marin nem por um binóculo, já que ele era um dos ativistas da ditadura militar que governou o país por 21 anos.   Mas não tem o mesmo repúdio por José Sarney, o maior dos adesistas até então, que se elegeu governador, deputado, senador, líder e tudo o mais da antiga ARENA (e do PDS), o partido do governo militar e que, convenientemente, aderiu a Tancredo Neves quando percebeu que a máquina iria desabar.

Ferrenho opositor, Antonio Carlos Magalhães, o Grande, não demorou a apoiar-se em Lula para facilitar o trânsito no governo. Fez o mesmo com Itamar.

Paulo Maluf, por razões mais que obscuras, aliou-se ao PT, quem diria, e até abraçou Lula nos jardins da sua casa para o deleite dos jornalistas ali presentes.

Outros incontáveis políticos escolheram alianças sem o menor bom senso, mas que lhes valeram para alguma coisa.

Ninguém está interessado no país ou na população, mas no seu próprio benefício sabidamente marcado pelo narcisismo.

Apesar dos nomes citados acima, eu não estou falando dessas pessoas. Substitua os nomes e os partidos por quaisquer outros e a frase não mudará de sentido.

É adesismo puro.

 

NE: “Transparências”, de 1972, é uma obra de Vladimir Nabokov

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