Crime e Castigo – Execuções na Indonésia

Cotidiano

Bem disse a ex-ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (PT-RS): “Ele era traficante e não herói !”.

O canal pago GloboNews mostrou a saga, se assim se pode chamar, do brasileiro Marco Archer na Indonésia reprisando várias vezes sua última entrevista.  Ao perceber que não teria mais jeito, ele se desesperou e prosaicamente declarou estar profundamente arrependido, pois que queria voltar ao Brasil para ensinar aos adolescentes a lição que aprendeu na vida.  “Eu mereço outra chance. Todo mundo comete erros” disse ele na entrevista.

Demorou muito para que esse sentimento fluísse por suas veias.  Não parece que ele tenha lembrado de se arrepender enquanto enriquecia com a venda de drogas, sabe-se lá para quem, e, possivelmente, destruindo famílias inteiras por conta do vício.   Ele precisou sentir o frio do fuzil para isso.

Para os padrões normais de uma sociedade, a pena de morte é um tanto excessiva até mesmo para um traficante.  Sempre que um crime hediondo acontece, como um menor que mata à toa um cidadão honesto, a comoção faz com que a comunidade deixe aflorar sua raiva exigindo a redução da maioridade penal, a pena de morte e até linchamentos.

A grande diferença é que, nas sociedades evoluídas, o castigo vem rapidamente não importando quem é a pessoa ou a qual classe social ela pertence.   Nessas sociedades, os criminosos podem passar o resto da vida na cadeia se um júri assim decidir.

No Brasil, esse caso seria algo como um passeio de algum tempo na cadeia e depois a liberdade por bom comportamento ao cumprir um sexto da pena.  Afinal, todos merecem uma segunda chance, até mesmo aqueles que já tiveram várias oportunidades durante sua vida pregressa, mas se esqueceram de abençoá-la.

Muita gente é a favor da pena de morte, mas quase nenhuma é capaz de apertar o gatilho.  Uma mostra do que o moral de fato significa quando estamos fora do calor da discussão.

Um outro brasileiro já está olhando na direção do pelotão: Rodrigo Muxfeldt Gularte, paranaense de 43 anos, também condenado por tráfico de drogas na Indonésia e velho conhecido dos viciados daqui.  A exemplo de Archer, ele foi preso ao tentar entrar no país com 6 Kg de coca dentro de pranchas de surf e não conseguiu a sonhada clemência do Presidente.   Dizem que a prisão o comprometeu mentalmente.  Ele fala sem nexo, conversa com pessoas inexistentes e tem sintomas de esquizofrenia, o que talvez o salvem do paredão, segundo as Leis do país.  Talvez.  E se assim os médicos locais atestarem.

Da mesma forma que Archer, ele deve ter imaginado que a corrupção do sistema prisional o livraria de uma condenação ou até, quem sabe, lhe renderia uma fuga espetacular no melhor estilo do “Expresso da Meia-Noite”.

Não dá para ter pena deles e, sim, da família que sofre com isso.  O Marco Archer já não tinha mais ninguém.  Os pais viram o filho ser preso, mas morreram antes dele ser fuzilado.  Já o Rodrigo deixa um filho autista que pouco entende a situação e uma mãe aflita.  Que preço alto essa mãe está pagando.

O crime aconteceu de fato, mas o castigo é, sem dúvida, desproporcional.

NE – “Crime e Castigo” é um romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski publicado em 1866.

Edição de 29 de abril de 2015:
Rodrigo Gularte foi executado na terça-feira, dia 28 de abril, mesmo tendo sido diagnosticado com esquizofrenia.  O padre que o atendeu declarou que ele não tinha consciência de que seria morto.
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