O Iate Maldito
O Iate Creole, considerado maldito, foi construído há cerca de um século e viu muita coisa passar.
A socialite italiana Patrizia Reggiani que o diga. A assassina não confessa de Maurizio Gucci, seu então marido, já dizia:
“É melhor chorar num Rolls-Royce do que ser feliz numa bicicleta”. E, no meio de tudo isso, ainda tinha espaço para mais uma tragédia: o Iate Creole: o veleiro que se tornou uma obsessão para a mulher do herdeiro da grife.
Acredita-se que esse veleiro amaldiçoado provocou vários destinos infelizes. E também para a família Gucci.
Patrizia nasceu pobre e acabou se casando com um dos maiores partidos da época, Maurizio Gucci, que a levou à alta sociedade italiana. Assim, a “senhora Gucci” foi domada pelo luxo, poder e riqueza.
Muito antes disso, o Iate Creole (ou Vira, no seu nome de batismo original), projetado por Charles E. Nicholson foi construído pelo estaleiro britânico Camper & Nicholsons. O brinquedinho, com três mastros com velas, navegou em 1927.
Já naquela ocasião, um dos mais cobiçados solteiros de Nova York e o maior produtor de tapetes do mundo, Alexander Smith Cochran, começou a praticar aquilo que seria a sua maior paixão: navegar. Ele queria competir na Europa e, lá, venceu quase tudo. Mas faltava o sonho maior e ele encomendou a produção de uma nova escuna.
O Iate Vira foi lançado ao mar e imediatamente deu indícios de que não era qualquer coisa normal. O tradicional batismo com champanhe precisou ser repetido três vezes para que a garrafa quebrasse.
Cochran ainda exigiu modificações no iate: pediu que os três mastros fosse encurtados e, com isso, o iate teria um péssimo desempenho ao navegar. Mas ele não conseguiu usufruir muito do iate: morreu de tuberculose com 55 anos, pouco depois de adquiri-lo.
Mesmo hoje, quase 100 anos depois de construído, continua sendo um dos iates mais conhecidos do mundo.
O iate participou de várias competições na Europa e fez sucesso ao retornar os mastros no seu tamanho original. Foi nesse momento que ele foi rebatizado com o nome de “Creole” por um dos vários proprietários que ele teve até a década de 1950.
E, como já disse, nem tudo foram flores para os proprietários desse iate, pois a maioria dos navios da época serviu na Segunda Guerra Mundial. Em 1948, passou para as mãos de Stavros Niarchos, inimigo e concorrente de Onassis. Naquela época, os estaleiros gregos estavam nas mãos de apenas três: o próprio Onassis, do seu sogro Stavros Livanos e do seu contemporâneo Stavros Niarchos.
Niarchos casou-se com Eugenia Livanos e a irmã dela, Athina, casou-se com Onassis. Esse casamento ainda serviu como ponto de partida para outro casamento mais tarde: entre Niarchos e a própria cunhada, Athina,.
Eles até compartilhavam o iate, mas os inimigos Onassis e Niarchos, não poupavam brigas públicas e as traições amorosas eram frequentes. E veio a maldição atribuída ao iate: a morte, em 1973, de Alexander S. Onassis, único filho homem de Onassis, e a morte de Eugenia Livanos, na ilha Spetsopoulas, de Niarchos. A morte de Eugenia foi considerada suspeita, apesar de dizerem que ela fora vítima de uma overdose acidental. A autópsia dizia que Eugenia tinha vários hematomas pelo corpo, mas Niarchos foi inocentado das acusações que sofreu.
E as coisas não param por aí: o viúvo Niarchos casou-se com Athina Livanos, que também viria a morrer de overdose poucos meses depois. Não muito tempo se passou e Aristóteles Onassis morreria em profunda depressão, causada pela perda do filho.
Niarchos investiu pesado na restauração do Creole. Em seu interior, as cabines foram reformadas para a lua de mel dos reis da Espanha: Juan Carlos e Sofia, em 1962.
O iate acabou sendo adquirido pelo governo dinamarquês, que o manteve como um caríssimo navio-escola, e o recolocou à venda devido aos altos custos.
Foi aí que surgiu Patrizia Reggiani e sua obsessão: ela conseguiu convencer Maurizio Gucci a adquiri-lo. Ela declarou até que conhecia essa história sobre a “maldição” do iate e queria mostrar que tudo não passava de coincidências ou bobagens. Pois é…
Durante os dez anos que passou com a família Gucci, o iate esteve nos mais importantes lugares da Europa. Em 1983, Maurizio assumiu os negócios da família e Patrizia percebeu que o marido não era um empresário tão competente e não tinha talento para conduzir uma marca com a estatura da Gucci.
Um belo dia, Maurizio saiu a caminho do trabalho, mas foi direto para o Creole. Sumiu por algumas semanas sem que ninguém soubesse onde ele estava.
Quando voltou, trouxe também sua amante e futura esposa, Paola Franchi, com quem já tinha um relacionamento antes mesmo de se divorciar de Patrizia . De acordo com a Justiça italiana, Patrizia foi a mandante do assassinato do herdeiro da Gucci, em 27 de março de 1995. Ele foi morto, com quatro tiros, por um assassino profissional em frente ao seu escritório, num bairro chique de Milano. Considerada culpada, Patrizia Reggiani foi condenada a 25 anos de prisão, mas saiu depois de cumprir 18. Ela chegou a recusar uma proposta de liberdade condicional porque, uma das exigências para isso, é que ela deveria ter um emprego fixo!
A Gucci não pertence mais à família Gucci há bastante tempo. O atual proprietário da marca, François-Henri Pinault, marido da atriz Salma Hayek, precisa pagar um milhão de euros anuais à condenada e durante a vida toda, conforme um acordo anterior aos fatos.
O Creole está em Palma de Mallorca e, atualmente, é propriedade das filhas de Maurizio e Patrizia: Alessandra e Allegra. Há muito tempo as filhas não falam com a “senhora Gucci” que, até hoje, nega ter qualquer relação com a morte do pai de suas filhas. E faz questão de manter o sobrenome Gucci e assim ser chamada.
O filme “Casa Gucci” é bem interessante. Vale a pena assisti-lo, apesar dos devaneios de Hollywood. E saiba que Patrizia ficou muito chateada com Lady Gaga (que a interpretou).
Baseado em jornais e reportagens da época e adaptado por Renzo Grosso