
Ele Perdeu. Só Isso !
Pode até parecer clichê. Mas houve uma derrota mais acintosa do que uma vitória. Os crescentes desmandos e declarações infelizes fizeram com que Bolsonaro perdesse votos que foram dificílimos de conquistar.
Seja pela pandemia – e o seu negacionismo até quando confrontado com ele -, seja na questão ambiental e tantas outras, como nas declarações desastrosas ao longo do mandato e que foram bastante aplaudidas por seus seguidores, o atual presidente não teve a qualidade política que ele deveria ter aprendido nos seus 27 anos como deputado federal.
Ele prefere ser um Trump tupiniquim atacando o sistema eleitoral e as urnas, fugindo de encarar seu adversário vencedor e silenciando quando, na verdade, deveria dizer alguma coisa. Qualquer coisa.
Xenofobias à parte, é bastante conhecida a tática de dar ao povo o que ele precisa ao invés de doutriná-lo para conseguir por seus próprios meios. Ronald Reagan, um dos melhores presidentes dos EUA, disse certa vez que “não importam quantas pessoas fazem parte de um programa social. O que importa é quantas pessoas não precisaram mais dele.” Isso reflete as constantes “melhorias” dos programas sociais brasileiros, visivelmente voltados para fins eleitorais, e que nem sempre funcionam conforme seu patrono gostaria. O “Auxílio Brasil”, que substituiu e aumentou o “Bolsa-Família”, não tem verba no orçamento de 2023.
O mundo inteiro buscou solucionar o problema da Covid, inclusive as brasileiras Fiocruz e o Butantã, enquanto o governo federal e seus ministros aclamavam medicamentos comprovadamente ineficazes. O presidente chegou até a imitar uma pessoa sem ar, quando o Amazonas ficou sem oxigênio para tratar seus pacientes.
O Brasil precisa descobrir que não é apenas no sul que está o desenvolvimento. O governo da Bahia já sabia disso há muito tempo quando passou à frente de Olívio Dutra, do Rio Grande do Sul, para instalar uma fábrica da Ford em Camaçari. Isso ocorreu em meio a um processo que envolveu vantagens concedidas à empresa para se instalar ali.
É disso que no nordeste precisa: trabalho e emprego dignos. Nos tempos da ditadura era lindo dizer que São Paulo tinha milhões de habitantes. Hoje isso não é mais bonito em lugar nenhum. Pelo contrário: é pejorativo. As cidades, estados e a União precisam dar condições para seus empreendedores, não importa onde eles estejam.
Quem pensa em Miami, na Flórida, acha que a cidade é um grande centro turístico. O que poucos sabem é que Miami não é apenas turística, a cidade é um dos mais importantes centros financeiros do país. É um importante centro de comércio, finanças, de sede de empresas, e possui uma forte comunidade de negócios internacionais. Ou seja, o Brasil não pode apenas se preocupar com o turismo. As cidades precisam se industrializar.
Aí vem o problema ambiental. O governo confundiu o Fundo Amazônico, fomentado principalmente pela Noruega, como venda de patrimônio. Quando percebeu que não poderia usar os fartos recursos desse fundo, o governo apenas acabou com ele e permitiu todo tipo de violência ambiental com a floresta: garimpeiros ilegais, madeireiros ilegais, invasões de terras indígenas, etc. Tudo em nome de maior desenvolvimento. Até o fortíssimo agronegócio pediu para o governo dar um jeito nisso porque estava atrapalhando as negociações internacionais.
Um ministro ainda falou para “passar a boiada” enquanto estavam todos preocupados com a Covid. E a boiada passou sem nem precisar da Covid.
O fato é outro clichê: o maior inimigo de Bolsonaro é ele mesmo.
Os combustíveis, os preços gerais, a inflação, a ameaça de golpe….
Estamos sentados numa bomba-relógio que vai explodir em breve: ou nos próximos dias (pós segundo turno) ou em primeiro de janeiro.
Uns choram enquanto os outros comemoram e vendem lenços. E o mundo continua girando.
EDIÇÃO DE 01/11/2022
Bolsonaro demorou 44 horas para fazer uma declaração. Ela durou poucos minutos e ele apenas ratificou sua desconfiança no sistema eleitoral e atacou a esquerda. Não citou o nome de Lula e muito menos reconheceu a derrota.