Quanto Pior, Melhor
Essa é uma ideia bastante difundida entre os políticos no mundo todo. E não é apenas um privilégio brasileiro.
Todo político de oposição quer ver o circo pegar fogo no governo para que, assim, ele possa angariar os votos necessários para se eleger. Ele vai falar mal do atual governo, que eles estão fazendo a coisa errada, que são incompetentes, que prejudica os interesses do povo e etc.
Mas há uma regrinha mais do que básica: o político jamais insinua que causou isso ou demonstra que está gostando.
Um certo deputado brasileiro fez isso: pediu para Trump, presidente dos Estados Unidos, taxar o Brasil e foi atendido. Como se não bastasse, ele ainda publicou nas redes sociais um agradecimento a Trump pelas novas tarifas sobre as exportações brasileiras. Ele achou que isso lhe renderia um bom cacife político quando, na verdade, foi um verdadeiro tiro no pé. Faz lembrar Jânio Quadros que, nos anos 1960, renunciou para voltar ao poder nos “braços do povo“. Só que não deu certo e ainda gerou 21 anos de ditadura.
Rapidamente o PL, partido originário do ex-presidente, quis se distanciar dessa conversa por razões mais do que óbvias: esse tarifaço prejudica o Brasil e, principalmente, o povo que vai pagar o preço por conta da uma alta da inflação, porque as empresas deverão demitir muita gente graças às exportações perdidas e várias outras coisas que deverão prejudicar o país ainda mais.
Lembremos que é a mesma pessoa que se dizia competente para o cargo de embaixador brasileiro em Washington, especialmente porque “fritou muito hambúrguer“. E, por conta do tarifaço, ele já comprou briga com os grandes caciques do partido.
Trump, ao ser questionado sobre as razões de ter incluído o Brasil nesse tarifaço, deu uma resposta simples: “porque eu posso“. Antes disso ele dizia que as novas tarifas serviriam para minimizar os prejuízos dos EUA, que sempre perdia bilhões para os demais países no comércio bilateral. Quanto ao Brasil, bem… o Brasil é deficitário na balança comercial com os Estados Unidos, mas mesmo assim as exportações brasileiras foram sobretaxadas. Perder dinheiro não significa, necessariamente, que haja prejuízo ao país, pois essas exportações movimentam a economia, rendem empregos, impostos, credibilidade e abrem outros mercados.
A questão é meramente política: o atual governo brasileiro está retaliando o anterior de forma ainda mais dura do que foi retaliado. O governo anterior cometeu a empáfia de acreditar que tudo podia, só porque estava no poder e descobriu que não era bem assim. E o deputado afirma que pode negociar o fim desse tarifaço desde que o pais desista dos processos da tentativa de golpe, especialmente aqueles contra o ex-presidente. Simples assim !
O ex-presidente fez tudo o que não deveria e em frente às câmeras: simulou falta de ar quando milhares morriam de Covid, disse que não era coveiro enquanto milhares morriam na pandemia, enfatizou que só a cloroquina poderia salvar o mundo da Covid (ao contrário do que diziam os cientistas), desmentiu tacitamente a eficiência das vacinas, falou em fraude nas urnas eletrônicas sem nenhuma prova e várias outras coisas.
Além disso, ele brigou com quem não podia – ou deveria. Escorraçou Sérgio Moro e quis medir forças com Moraes. Como ?
– Ao brigar com Moro, ele o entregou de bandeja para a oposição. As próprias afirmações pessoais do então presidente contra Moro foram entendidas como sendo ele, Moro, uma pessoa parcial e logo puseram tudo o que ele fez sob suspeita. Foi o começo da tragédia e passaram a analisar com lupa toda e qualquer prova contra os condenados da Lava-Jato. Muitas decisões corroboradas em vários níveis do judiciário nacional foram alteradas, provas e delações anuladas e livres de punição (mesmo assumindo a culpa e devolvendo milhões) e várias outras.
– Quanto a Moraes, ministro do STF, ele é protegido pelos demais como em qualquer sistema corporativo. Certo ou errado, ele detém o poder e tem a capacidade de influenciar toda a corte. Tê-lo como inimigo é sinônimo de fracasso.
Em suma, esse tarifaço soa muito mais como sanção econômica ao país, segundo entendimento de Demétrio Magnoli, colunista do GloboNews. E acho que ele tem razão.
Bem… o que está em curso hoje é fruto do quanto pior, melhor. Quanto pior para nós, melhor para eles.
Texto de Renzo Grosso.
