
A Banana Pode Desaparecer !
Esta história, verídica, está documentada por cientistas e também pelas Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Foi encontrado um tipo de fungo, que parece ter saído da cepa da Doença do Panamá, e é conhecido como Tropical Race 4 (TR4). Não seria tão alarmante se ele não estivesse se espalhando pelo mundo todo e a banana que conhecemos pode sumir !

A banana foi criada a partir de um acidente genético há mais de 10.000 anos e se mostrou com uma falha fatal. Esses “acidentes” eram bem comuns, pois a natureza se encarregava de fazer os cruzamentos genéticos, que acontecem o tempo todo até hoje. Esse “acidente” criou uma fruta perfeita, sem sementes, saborosa, cheia de vitaminas, que cresce em todo lugar e que, graças a tudo isso, fez dela um exemplo que poderá ficar na memória quando ela desaparecer.
A variedade de banana que conhecemos, a Cavendish, é bem diferente das verdadeiras selvagens. Elas eram originárias de locais como a Papua-Nova Guiné, tinham sementes grandes e duras, e eram intragáveis. Ela apareceu há cerca de 10.000 anos, após o cruzamento acidental, como já disse, entre a Musa acuminata, que era mais doce, e a Musa balbisiana, mais robusta e resistente.

Esse cruzamento acidental resultou em uma anomalia genética, por assim dizer. A planta era triploide, ou seja, tinha três conjuntos de cromossomos em vez de dois. Isso fez dela uma fruta estéril, sem sementes e, como não era possível reproduzi-la, a única forma era plantando mudas da planta-mãe.
Esse processo foi repetido por séculos ou milênios e deu origem a uma banana que dominaria o mercado, além de ser uma cópia perfeita da anterior ou um clone perfeito. Esse “acidente” também expôs a sua vulnerabilidade.
Se você comprou uma banana em algum lugar, você pode ter comprado uma Cavendish. Só que ela é apenas um clone da anterior e essa monocultura é um sonho para o comércio e um pesadelo para a biologia.
O fato de não haver diversidade significa que não há um fruto preparado para resistir a doenças. Se uma praga ou um fungo conseguir atacar uma planta Cavendish, teoricamente, ele também pode acabar com todas as bananas do mundo. Não há nada capaz de dar continuidade a ela e a espécie tem a mesma vulnerabilidade fatal. Isso faz com que a extinção seja uma grande possibilidade.

E isso já aconteceu antes!
Não é a primeira vez que a banana enfrenta um problema desse tamanho. Até 1950, a variedade dominante no mundo não era a Cavendish, mas a Gros Michel, ou “Big Mike”, muito mais saborosa. A Gros Michel também era um clone, como a Cavendish, e era largamente cultivada pela América Latina.
Aí veio a tragédia. Um certo fungo atacou as raízes da bananeira e se espalhou. E era tão letal que a Gros Michel acabou em poucas décadas. As plantações foram abandonadas e a banana foi praticamente extinta. Mas aí encontraram a salvação, na época, com a banana Cavendish, que ainda era boa, apesar de qualidade inferior.
E agora a história se repete. A Tropical Race 4 (TR4), é ainda pior e está de olho na Cavendish. Já temos notícias de destruição de plantações na Ásia, Austrália, África e, já falam também na América Latina, que é a região que mais produz. Mesmo a FAO a considera como uma “ameaça grave”.
Cientistas de todo o mundo estão correndo para que não aconteça a segunda extinção global da banana em menos de cem anos e não existe, até agora, uma variedade natural como aconteceu com a Cavendish no passado.
A Universidade de Wageningen, na Holanda, está tentando primeiro a engenharia genética. A ideia é criar uma Cavendish que resista ao TR4 enxertando os genes de outras plantas ou mesmo de bananas selvagens que são naturalmente resistentes contra essa praga. Já estão chegando a algum lugar, mas esbarram no fato que a população não aceita muito bem os alimentos modificados geneticamente.

Talvez a melhor solução, que essa Universidade também esta trabalhando, é o cruzamento tradicional com algum tipo de banana esquecida no tempo que tenha uma proteção natural para quebrar essa história e garantir que isso não se repita pela terceira vez.
Acredite ou não, a banana é um dos pilares da alimentação global. Só que isso representa a sua sentença de morte. Essa corrida não é apenas para defender uma fruta e, sim, pela segurança alimentar. A força da natureza é a variedade, não a uniformidade.
Referência: Organização Das Nações Unidas Para A Alimentação E A Agricultura
Texto de Renzo Grosso, adaptado de periódicos