
Antes De Hiroshima
AS VÍTIMAS NORTE-AMERICANAS DA BOMBA NUCLEAR
Em julho de 1945, um grupo de moças acamparam e nadaram em um rio perto da cidade de Ruidoso, no Novo México.
Mas elas ignoravam que, bem próximo dali, o Projeto Manhattan testou e detonou a primeira bomba atômica da história, que eles chamavam de “Teste Trinity“. Nenhum morador foi alertado de que às 5h30 do dia 16 de julho de 1945, uma bomba nuclear seria detonada. E as pessoas devem ter pensado que aquilo era o fim do mundo.

Essa moça, que está em primeiro plano na foto, é Barbara Kent.
Algum tempo depois, ela disse: “Estávamos todos completamente chocados… de repente uma enorme nuvem apareceu acima, acompanhada por estranhas luzes no céu. Doía nossos olhos olhar para cima. O céu parecia um segundo, muito mais forte que o sol”.
Horas depois, elas viram flocos brancos caindo do céu. Todas pensaram ser neve e brincaram com eles, só que esses flocos eram quentes e não eram outra coisa além de partículas contendo radiação oriunda da explosão. Esses “flocos” eram altamente tóxicos e radioativos que continuaram a cair sem que alguém se desse conta dos perigos daquilo. Eles não foram avisados, não houve evacuação e muita gente morava a apenas 20 quilômetros de distância.
Essa pobre gente foi apelidada de “downwinders” ou aqueles que vivem em locais com vento a favor (numa tradução prática). Ou seja, eles foram contaminados por, em parte, partículas radioativas levadas pelo vento desde o local da explosão. Quem mais sofreu, morava em Chupadera Mesa, uma cidade a 48 km do local do teste.

Depois disso, a Base da Força Aérea de Alamogordo divulgou um comunicado à imprensa: “Um depósito de munição localizado remotamente contendo uma quantidade significativa de explosivos e pirotecnia explodiu, mas não houve perda de vidas ou pessoal da base”. E continuava: “As condições climáticas que afetam o conteúdo dos projéteis de gás detonados pela explosão podem tornar conveniente para o Exército evacuar temporariamente alguns civis de suas casas”, de acordo com o The Albuquerque Tribune, jornal que noticiou na época.
Não houve nenhuma explicação ou aviso a respeito dos perigos que esse evento causou. Esse comunicado mentiroso previa uma evacuação, que jamais aconteceu, por conta dos riscos que esses testes nucleares poderiam gerar.
Todas as moças da foto tiveram câncer e não chegaram aos 30 anos. Somente Barbara Kent sobreviveu mais, mesmo tratando vários cânceres ao longo da vida.

Foi uma época em que a famigerada bomba nuclear, era sinônimo de poder e tecnologia de um povo. Para quem não sabe, o inventor do bikini, adotou esse nome para seu produto, inspirado nos testes nucleares que os norte-americanos faziam no Atol de Bikini (Veja a matéria aqui). As ilhas ficaram tão contaminadas que até hoje, passados mais de 70 anos, o lugar ainda é inabitável.
As cidades japonesas Hiroshima e Nagasaki infelizmente estavam no caminho das bombas. O mesmo caminho em que estavam essas moças e, estima-se, milhares de outras pessoas contaminadas e mortas nos Estados Unidos.
Uma mulher anônima declarou:
“A falta de saúde era tanta que nem fecharam o local para visitação. Na década de 1950 não havia restrições ao local, que era radioativo. Se você for hoje, o local estaria cercado por placas de advertência. Imagine como foi nos meses e anos após o teste”.
Outro sobrevivente, Henry Herrera, declarou: “Achei que o mundo ia acabar”.
Texto de Renzo Grosso e jornais.

