O Poder De Quem Precisa Dele

Recentemente eu li um artigo, publicado por um renomado jornalista recentemente falecido, que mostra o poderio militar, econômico, tecnológico e etc, de um país como os Estados Unidos e o compara com o Brasil. Só pode ter sido uma brincadeira dele.

Ao citar os preços das aeronaves de combate disponíveis pelas forças norte-americanas, ele chega ao ponto de chamar os caças brasileiros de táxis. Sem falar nos custos de uma operação bélica norte-americana num país estrangeiro, que movimentou bilhões de dólares e dezenas de equipamentos militares entre homens, navios, aviões, bombas…, e que resultou num sucesso que, segundo a imprensa, foi cirúrgico. Ele alega que um país inteiro como o Brasil não resistiria a uma fração disso.  Acredito que nem mesmo algum país do G7.

Chama o Brasil de nulidade militar e, consequentemente, politicamente nulo. Ele acha que o Brasil não existe e que não está em lugar nenhum justamente por conta de sua pouquíssima capacidade militar. Recentemente um artigo na CNN Brasil dizia que mais de 50 pilotos da FAB pediram baixa, num momento de corte de verbas, que prejudicaram também o abastecimento para os voos de patrulha.

Esse jornalista está enganado e não notou que o Brasil não está envolvido em guerras há muitas décadas. A força militar brasileira suplanta facilmente qualquer país latino-americano e, exceto pelas Grandes Guerras I e II, o Brasil não teve conflitos no último século. É até natural o desleixo com as forças armadas, mas mantendo o controle do poderio sul-americano.

O poderio militar é muito relativo.   Ele depende das razões da época e do que você pode fazer com ele.   Muito se lê sobre as dificuldades da Rússia em vencer um pequeno país como a Ucrânia. Muita mentira vem sendo contada para fortalecer o discurso de que a Rússia está sendo humilhada nessa guerra.   Mas ninguém, nem os Estados Unidos, tem a coragem de se meter com a Rússia ou com a China porque sabe muito bem que, fazendo isso, só vai arrumar dor-de-cabeça.

O mesmo com Israel e a Faixa de Gaza.  Netanyahu tem razão na luta contra o Hamas, mas está estendendo o conflito por questões muito mais políticas do que práticas.   Ele bem sabe que, se sair do poder, vai sofrer um monte de processos dentro de seu próprio país e se mantém ali dizendo que é, basicamente, para não permitir a criação de um Estado Palestino ou um estado hostil no seu quintal.

Não tenha ilusão de que o narcotráfico e a violência só existe na América do Sul.   A capital norte-americana sofre com isso há muitos anos e é um dos lugares mais violentos do planeta, sem considerar cidades envolvidas em guerras. Tanto norte-americanos, como europeus, travam lutas terríveis contra as gangues e os cartéis internos de distribuição de drogas abastecidos, aí sim, pelos cartéis sul-americanos. Não é só a responsabilidade de quem produz ou trafica, mas também de quem consome. É aí que Trump quer jogar a responsabilidade para o México: ele acha que o consumo poderia acabar se a droga não fosse traficada para o território norte-americano.

Fazer isso apenas repetiria os anos 1920 e a Lei Seca. Nunca se bebeu tanto nos Estados Unidos como durante a Lei Seca, que levou milhares para a corrupção e a adquirir a bebida no mercado negro. É consenso de que essa Lei foi a maior bobagem que os norte-americanos poderiam ter feito.

Mas, voltando ao assunto, não foram apenas as Forças Armadas que sofreram cortes. Tivemos aquele que, sem dúvida, foi o pior Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação que este país já teve. Esse pseudo-astronauta, homem intimamente ligado à ciência e tecnologia, desferiu cortes duríssimos nas universidades e vários polos de desenvolvimento, apenas para poder falar “sim senhor” ao seu mestre. E quem perdeu muito foram os pesquisadores e o próprio país.

José Roberto Guzzo morreu no dia 2 de agosto de 2025 e o artigo que ele deixou (A Gente Somos Inútil, 27/06/25) parece mais uma propaganda norte-americana bem ao estilo de Goebbels e coloca o Brasil abaixo de sola de sapato.

Não pode ser sério.   Os Estados Unidos não são o que são porque tem grande poder bélico.   Eles tem grande poder econômico e, com ele, arrastam o poder político a ponto de querer intervir na soberania dos outros países.   Os norte-americanos nunca ameaçaram um país como o Brasil com o poder militar.   A ameaça é sempre política e/ou econômica.

Texto de Renzo Grosso.