Ilha Sentinela do Norte – O Inferno
Porque ninguém pode ir lá ?
A ilha Sentinela do Norte fica no arquipélago de Andaman, na Baía de Bengala, entre Mianmar e a Índia, é habitada por uma das últimas tribos ainda selvagens do mundo e é considerada um dos locais mais inóspitos e perigosos do planeta. O acesso, ou mesmo aproximar-se da ilha, é proibido. Apesar de tratar-se de um arquipélago, essa ilha é totalmente isolada do resto do mundo.
Em agosto de 1981, durante uma forte tempestade, o cargueiro panamenho Primrose perdeu o controle e encalhou na ilha a vários metros da praia de Sentinela do Norte. Os 28 tripulantes viveram dias de tensão e terror porque os habitantes da ilha estavam tentando invadir o navio e a tripulação não tinha armas para se defender. Eles foram atacados com paus, pedras e flechas durante três dias quando foram finalmente resgatados por um helicóptero. O navio ficou lá, encalhado, sem nenhuma perspectiva de resgate.
O que teria acontecido com a tripulação diante dos nativos selvagens da ilha? Esta é uma pergunta que todos os que conhecem a fama dos habitantes da Ilha Sentinela do Norte se fazem ao ver os restos do navio na praia. Não poderia haver pior lugar no mundo para tentar escapar de um naufrágio. Dá até para ver os restos do navio encalhado no Google Earth.
O que torna tão pavorosa a Ilha Sentinela do Norte, uma das ilhas que formam o arquipélago da Andaman e que pertence à Índia é que o governo não tem nenhuma atitude com os habitantes da ilha. São eles quem mandam por lá e vivem ali há mais de 60 mil anos. E da mesma forma até hoje.
Os sentineleses, como foram chamados pelos estudiosos, são umas das tribos mais isoladas do mundo, até porque a principal característica do grupo é a violência e a hostilidade com quem chega na ilha. O acesso é totalmente proibido, mas vez ou outra alguém consegue ir para lá. E morrer lá.
Essa comunidade foi contatada pela primeira vez no século 18 por um inglês chamado John Ritchie e depois por outro inglês, Maurice Portman, que chegou a sequestrar dois adultos e quatro crianças para “estudos” fora da ilha (os dois adultos morreram, mas as crianças foram devolvidas, tempos depois). Os sentineleses são seres de pele bem escura e baixa estatura, com grande força física, que andam nus e vivem na mata que reveste a ilha. Suas casas jamais foram vistas e não se sabe sob que tipo de organização social eles vivem. São grandes caçadores, que usam arcos e lanças para caçar e pescar, além de se alimentarem de frutos e moluscos marinhos nessa ilha que tem o dobro do tamanho de Fernando de Noronha, além da linda paisagem. Mas nem pense em chegar perto. Os sentineleses são o que restou dos homens das cavernas. Passar por lá é morte certa.
O missionário que foi executado
O caso mais recente e trágico envolvendo uma tentativa de contato com os sentineleses aconteceu alguns anos atrás, em novembro de 2018, quando um auto-proclamado missionário norte-americano, de 26 anos, chamado John Allen Chau, convenceu (ou subornou) um grupo de pescadores a levá-lo até a ilha, onde pretendia converter os nativos ao cristianismo. Logo depois do desembarque, os pescadores em fuga ainda puderam ver o corpo do jovem sendo arrastado pelos sentineleses na praia, após ser atingido por uma chuva de flechas. O corpo do missionário ficou ali na praia e não foi resgatado porque o governo da Índia proíbe qualquer contato com os sentineleses.
Alguns anos antes, em 2006, dois pescadores foram mortos pelos nativos com flechadas e golpes de lança ao se aproximarem da praia para capturar lagostas. Os corpos foram abandonados na areia da praia e as autoridades ainda tentaram recuperá-los, mas não conseguiram porque o helicóptero de resgate foi recebido com flechadas, impedindo o desembarque.
Crimes sem punição
Da mesma forma do missionário americano, ninguém foi responsabilizado pelas mortes dos pescadores, porque os sentineleses e assim como os índios de algumas remotas tribos brasileiras, são inimputáveis. Ou seja, seus atos apenas seguem as tradições do seu povo. No caso deles, de extrema hostilidade e violência com quem chega de fora.
Imagem histórica
Em 1974, uma equipe de cinegrafistas da National Geographic tentou filmá-los, mas mesmo à distância, tiveram que abandonar o projeto quando o chefe do grupo foi flechado na perna. No ano seguinte, o fotógrafo indiano Raghubir Singh, que também trabalhava para a National Geographic, conseguiu algumas das mais famosas fotos já feitas dos sentineleses, todos armados com grandes arcos e flechas, na beira da praia. Na ocasião, Singh arremessou cocos, bananas e peças de roupas na praia. As frutas foram recolhidas pelos nativos, mas as roupas foram deixadas. Os sentineleses vivem nus até hoje e pouco se sabe sobre eles.
Em 1991, aconteceu o único contato pacífico entre estudiosos e os nativos de Sentinela do Norte. Com o objetivo de descobrir qual língua eles falavam, um pequeno grupo de antropólogos, entre eles Madhumala Chattopadhyay, acompanhados de membros de outras tribos da mesma etnia, se aproximou da praia e passou a jogar cocos e utensílios no mar, numa tentativa de fazer os sentineleses se aproximarem dos barcos. Eles fizeram isso, coletaram os presentes e mostraram que era para os visitantes irem embora em seguida. Não foi possível sequer identificar o dialeto que falavam. Até hoje, quase nada se sabe sobre os habitantes da Ilha Sentinela do Norte.
Acesso proibido
Depois disso, o governo da Índia proibiu totalmente o acesso à ilha, tanto por temer pela segurança das pessoas, quanto, sobretudo, para preservar e proteger os nativos, que não têm nenhuma resistência contra as doenças urbanas. Criou uma faixa de exclusão de 10 quilômetros no entorno da ilha, nos quais o acesso de barcos não é permitido e passou a patrulhar a região com navios da Marinha. Mas nem isso impede que, de vez em quando, alguma embarcação se aproxime da ilha, ainda que contra a vontade dos seus tripulantes.
Mesmo 40 anos depois, os restos daquele navio panamenho ainda estão visíveis na ilha. Já os seus habitantes, seguem vivendo como que viviam há 60 mil anos: com arcos, flechas, lanças e muita selvageria contra quem ousa entrar nos seus domínios.
Imagens: Google Earth, Survival International, Divulgação
Texto: compilação de várias publicações, como El País