Lei de Zoneamento nos Jardins em São Paulo

Cotidiano

Em mais uma comédia de mau gosto, a Câmara Municipal de São Paulo está para votar um projeto que regulamenta a nova lei de zoneamento da Capital, entre outros, em locais onde hoje é exclusivamente residencial como os Jardins.
Para quem não conhece a cidade, uma boa parte da região dos Jardins é um oásis verde no meio do concreto, com ruas bem arborizadas, boa infraestrutura, casas luxuosas e um pouco do trânsito de quem tenta fugir dos corredores. A região, que era bastante alagadiça, foi idealizada pela Companhia City em 1913, com projeto do inglês Barry Parker, que planejou o primeiro bairro-jardim de Londres e a intenção era fazer do local uma área nobre da cidade o que, de fato, acabou acontecendo desde o início.
Esse pulmão verde delimitado principalmente pelas avenidas Rebouças, Estados Unidos, Nove de Julho e Marginal do Rio Pinheiros tornou-se uma das áreas mais valorizadas da cidade, sendo alvo de todo o tipo de especulação imobiliária.
É aí que essa nova Lei encontra respaldo. A prefeitura quer que a área seja considerada mista, residencial e comercial, e afirma que apenas alguns tipos de comércio seco ou show-rooms poderão se estabelecer alí, sendo vedado o uso para grandes escritórios que venham a causar algum tipo de transtorno ao local. Pura conversa.
A especulação imobiliária destrói tudo o que há pela frente e não respeita nem a própria Lei. Não vai demorar nada para que esses pequenos negócios se tornem abusivos e, em pouco tempo, aquele local estará tomado de outros escritórios e casas comerciais.
As ruas não comportarão o trânsito que deverão migrar para esses novos locais e nem as árvores irão sobreviver. É muito simples: as árvores atrapalham as vitrines e os letreiros das lojas ou escritórios. Também são um problema quando é preciso abrir vagas para estacionamento. Aquele belo jardim que havia na ex-residência dará lugar a um cimentado para abrigar os novos veículos. É só olhar para os locais onde o comércio é permitido: Rua Estados Unidos (foto), Gabriel Monteiro da Silva e a própria Rebouças que perdeu muito da área verde e só a recuperou depois de uma ampla e caríssima reforma. As demais, continuam em processo de desertificação.
Acreditar que a prefeitura irá fiscalizar esses abusos é o mesmo que acreditar no SUS. O departamento municipal responsável pelas licenças de construção na cidade era considerado um dos mais corruptos de todos até que houve um escândalo, para variar, de venda de autorizações para uso do solo. Assim, qualquer um poderia construir qualquer coisa sem ser incomodado. Milhares de imóveis foram construídos em desacordo coma Lei apenas porque só bastava pagar para as pessoas certas.
Agora vem a prefeitura dizendo querer legalizar aquilo que será o fim dos Jardins.
A região já sofre com o trânsito que passa por ali para cortar caminho ou para fugir dos corredores mais congestionados. O sistema de esgotos é antigo e já não dá conta das casas. A impermeabilização do solo, que é um padrão em casas comerciais, vai levar a região a mais alagamentos do que o normal. Se é que podemos chamar alagamentos de normal.
Essa comédia já vem de outros erros. A Lei atual manda que seja mantido um certo percentual de área verde nos imóveis. Acontece que, depois de receber o “habite-se”, o que era área verde vira piscina, quadra ou apenas mais um cimentado que dá menos trabalho e é mais fácil de manter. Só que isso provoca ainda mais impermeabilização do solo, impedindo que a água da chuva seja absorvida, levando-a às galerias cada vez mais entupidas e, consequentemente, mais e mais alagamentos.
Quem já esteve numa rua como a Haddok Lobo numa enxurrada sabe bem o que foi feito por ali. A água desce pela rua íngreme como uma corredeira, que impede as pessoas de andar pelas calçadas e até de sair das lojas. E isso vai acontecer também nos Jardins.

As áreas comerciais e o verde são inimigos.

E assim, a cidade vai destruindo o que já tem pouco.

 

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