Os Dez Dias Que Nunca Existiram
E como isso aconteceu ?
Os primeiros calendários foram desenvolvidos pelos mesopotâmicos há cerca de 4 mil anos e eram baseados nas fases da Lua. Os romanos chamavam o primeiro dia do mês de “calendas”, daí a origem da palavra “calendário”.
Num certo momento, o Papa Gregório XIII quis reorganizar o calendário juliano, que era utilizado no mundo católico e que está fazendo 434 anos de idade como calendário gregoriano. O calendário Juliano, foi criado pelo romano Júlio César, 46 anos antes do nascimento de Jesus Cristo. Mas tinha um problema: estava atrasado em relação às estações do ano.
A defasagem acontecia porque o ano solar marcado pelo calendário juliano – o tempo que a Terra leva para dar uma volta ao redor do Sol – era cerca de 11 minutos inferior ao real. O ano solar atual é de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos.
Gregório percebeu que, com o passar do tempo, a Semana Santa era comemorada cada vez mais tarde porque a defasagem ia ficando maior. Se continuasse assim, depois de muitos anos, acabaria sendo comemorada no verão no hemisfério norte. O papa, que foi aconselhado por quase meia década por uma comissão liderada pelo astrônomo jesuíta Christopher Clavius e o físico Aloyisius Lilius, tomou a decisão de reorganizar o calendário.
Mas, para isso, era preciso uma transição, então ele decidiu cortar de uma vez os dias entre 4 e 15 de outubro de 1582, que oficialmente deixaram de existir. Esta medida levou a paradoxos, como o do funeral da freira Santa Teresa de Jesus, conhecida por fundar a Ordem das Carmelitas Descalças. Portanto, ou Teresa morreu antes da meia-noite de 4 de outubro ou nas primeiras horas de 15 de outubro, dia escolhido para celebrar sua festa.
Itália, Espanha e Portugal foram os primeiros países a estabelecerem o novo sistema, que ficou conhecido como o calendário gregoriano. Hoje é o mais difundido no mundo, apesar de coexistir com outros calendários utilizados por diferentes sociedades e culturas que organizam de forma diferente seu ciclo anual.
São estes os tipos de calendário mais usados:
Calendário solar: leva em consideração o ciclo do Sol. O calendário que nós utilizamos é um calendário solar e possui 365 dias. Mas a translação da Terra dura 365 dias e cerca ade 6 horas. Para ajustar o calendário com a translação da Terra, adicionamos, a cada quatro anos, um dia a mais no calendário, o 29 de fevereiro. Esses anos com 366 dias são chamados de bissextos, ou seja, que possuem dois “6”.
Calendário lunissolar: mescla os ciclos da Lua e do Sol, acrescentando um mês bissexto de tempos em tempos, para sincronizar o calendário com a translação da Terra ao redor do Sol. Um exemplo atual de calendário lunissolar é o chinês. Ele possui um ano com meses lunares, que duram 29 ou 30 dias, e possui um total de 354 ou 355 dias, como os calendários lunares. A cada três anos é adicionado um mês extra, para sincronizar o calendário com o ciclo solar.
Calendário lunar: considera o ciclo da Lua, ou seja, se hoje inicia uma Lua cheia, ela demorará 29 dias e meio para uma nova Lua cheia. Os muçulmanos utilizam ainda hoje. Esse calendário consiste em 12 meses, que possuem 29 ou 30 dias, durando entre 354 e 355 dias. Os muçulmanos atribuíram o ano zero à Hégira, quando o profeta Maomé fugiu de Meca, que seria o nosso 622 d.C. Segundo o calendário muçulmano, estamos no ano 1444 depois da Hégira.
Em 1902, Moses B. Cotsworth, um contador britânico, tentou convencer pessoas de que seu método era o melhor possível. Moses achava que o Calendário Gregoriano era muito confuso e atrapalhava seu trabalho. Assim, decidiu criar seu próprio jeito de controlar os dias de um ano, que ele chamou de Calendário Fixo Internacional.
Seu projeto previa que um ano teria 13 meses, onde cada mês teria exatamente 28 dias. A estética também jogava a seu favor, visto que cada mês teria exatamente quatro semanas e todos os meses se iniciaram no domingo; ou seja, o dia 2 seria na segunda, o 3 na terça e assim por diante.
Todo mês teria que enfrentar uma sexta-feira 13, mas parece que ele não era adepto a superstições e queria que todos os feriados fossem colocados numa segunda-feira, ou seja, teríamos um final de semana prolongado. Não tinha como dar errado. Além disso, Cotsworth manteve os nomes de cada mês e criou mais um entre junho e julho, que ele chamou de Sol, porque coincidia com o solstício de verão.
Só que 13 meses com 28 dias totalizam 364 dias e não 365. Para resolver isso, após o dia 28 de dezembro seria celebrado o “Dia do Ano“, que não se encaixaria em nenhum mês e completaria os 365 dias. Ainda assim teríamos um ano bissexto, com o mês Sol recebendo mais um dia a cada quatro anos, o dia 29, que seria sempre um sábado.
Na década de 1930, a Liga das Nações, percussora da ONU, chegou a discutir a implementação do Calendário Fixo Internacional. Mas, nessa época, o mundo passou a se preocupar com Hitler e a Segunda Guerra Mundial.
Nunca mais o assunto foi debatido.
Texto de Renzo Grosso, com adaptações de várias publicações