
O Crime da Mala
Foi um crime mais que hediondo. A jovem Maria Mercedes Fea casou com Giuseppe Pistone em 1925, em Buenos Aires. Era uma mulher bonita e nunca suspeitou que seu marido no futuro seria seu assassino.

Em outubro de 1928, Maria descobriu que seu marido iria dar um golpe num primo. Esse primo, que empregava Pistone numa salumeria, lhe havia oferecido sociedade no estabelecimento por 150.000 liras. Pistone pediu o dinheiro para a mãe, que vivia na Itália, e ela recusou. Mesmo assim ele aceitou o negócio e já ensaiava aprontar alguma com o primo. Sabendo disso, Maria Fea decidiu escrever uma carta para a sogra e contar o que seu marido pretendia.
Só que, antes dela enviar a carta, Giuseppe a pegou e resolveu tirar satisfações com a esposa. Foi uma discussão feia e Pistone a agrediu, terminando por sufocá-la com um travesseiro. Ela tinha só 22 anos e morreu.
Ele não sabia o que fazer com o cadáver da esposa e decidiu colocar o corpo numa mala e despachá-la para Bordeaux, na França. Como remetente, ele informou um nome e endereço falso e mandou a mala para um endereço qualquer e para uma pessoa inexistente chamada Ferrero Francesco.
Mas, ao ser colocada num guindaste que levaria a mala com o cadáver para dentro do navio, o peso de toda carga de malas fez com que o cabo se rompesse, derrubando tudo. Logo alguém notou uma pequena fenda de onde saía sangue e um forte cheiro. A polícia foi chamada e abriram a mala encontrando o corpo de Maria Fea, que não se sabia ainda quem era.
Aberta, a mala revelou um crime cruel. Como a mulher não cabia na mala, Pistone decidiu esquartejar o corpo, cortando nas juntas e membros. Ela estava grávida de seis meses e, dentro da mala, além do corpo de Maria Fea e o feto de uma menina, ainda haviam peças de roupas e, entre outras coisas, a navalha que Pistone usou.

A necropsia concluiu que Maria morreu por sufocamento e esganadura. Depois de tudo, Maria Fea finalmente foi sepultada no Cemitério da Filosofia, em Santos.
Um crime desse porte chamou a atenção da mídia e a investigação logo chegou a Pistone. Preso, ele diz que apenas teve uma discussão com a esposa e que ela teria se sentido mal. Mas ele mudou a versão alegando que a pegou com seu amante quando foi confrontado com a autópsia. Ele manteve essa versão mesmo com o testemunho de vizinhos que teriam ouvido toda a discussão.
Giuseppe Pistone foi levado a julgamento em 15 de julho de 1931 e condenado a 31 anos de prisão pelos crimes de homicídio, latrocínio e ocultação de cadáver.

Porém, sendo beneficiado por um decreto de 1944 do então presidente Getúlio Vargas, sua pena foi reduzida para 20 anos e ele saiu em liberdade condicional naquele mesmo ano. Em 1948 sua pena foi considerada cumprida.
Pistone mudou-se para Taubaté, no interior paulista, casou de novo e tentou levar uma vida normal (?).
Acreditava-se que, com o tempo e sem parentes próximos no Brasil (apenas na Argentina), Maria Fea seria rapidamente esquecida. Mas não foi o que aconteceu.
O túmulo de Maria Fea é o mais visitado do Cemitério da Filosofia. Não é difícil encontrá-lo e, nele, existem várias placas e cartões com pedidos e agradecimentos. Todos os que ali trabalham, sabem onde fica. O jazigo foi construído em 1951 por um casal agradecido e é ornado por dois querubins. Ela se tornou uma Santa popular e já foram vistas várias mulheres vestidas de noiva que vão até lá para agradecê-la. E o Museu da Polícia de SP mantém uma reprodução desse crime na sua exibição permanente.

E por onde andou Pistone ?

Ele se empregou como zelador de um prédio em Taubaté e houve ainda quem teve pena dele.
João Carlos da Silva Telles, então diretor do Instituto de Biotipologia, o definiu: “É uma pessoa boa, tendo matado mais por ímpeto. Não é, como se comenta por aí, um sujeito mau. Essa fama lhe caiu mais por sensacionalismo da imprensa, que o mostrou maldosamente como o mais desalmado dos facínoras“.
Tadinho !
Como zelador, ele ganhava 200 mil réis por mês e casou com a viúva Francisca Amélia da Silva, cujos sete filhos só souberam do passado de Pistone onze anos depois da união. Ela era faxineira da Colônia Penal Agrícola de Taubaté, onde se conheceram. Pistone morreu de infarto do miocárdio em 28 de junho de 1956 aos 62 anos. Seus restos mortais foram exumados cinco anos depois e foram perdidos no ossário do cemitério da Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco, do Convento de Santa Clara, na mesma Taubaté.
Na época, uma reportagem nada confiável, dizia que ele teria comprado a sepultura de Maria Fea para eterniza-la. Mas o povo que visitava seu túmulo já tinha feito isso.
Texto de Renzo Grosso e reportagens da época.