Barão de Mauá

Cotidiano

Ao contrário do que muitos pensam ou falam, o Império nada teve a ver com a falência de Mauá. Na verdade, o Império ajudou o Barão no que pôde. Basta ver que o imperador o enobreceu, fazendo-o barão sem grandeza em 1854 (considerados como Titulares do Reino) e depois em 1874 o elevou a visconde com grandeza (que eram considerados Grandes do Reino). O título com ou sem grandeza, permitia ou não que ao nobre usar a coroa em seu brasão de armas.

Brasão de Armas do Visconde de Mauá com a Coroa

Não teria sentido fazê-lo nobre se o Império estivesse vendo-o como adversário. O filho do barão mostrou lealdade ao imperador seguindo-o no exílio após o golpe de estado que derrubou a monarquia em 1889. Quando Mauá faliu, Dom Pedro II o ajudou no que pôde. Chegou até a alugar uma casa para o visconde e permitiu que ele usasse o Paço Imperial.

Mauá adquiriu uma chácara no Morro de Santa Teresa, onde tratava seus empregados como auxiliares e não negava abrigo aos escravos foragidos. Trouxe sua mãe, irmã e sobrinha para residirem com ele.

Depois da quebra, Mauá conseguiu se levantar e reconstruiu sua fortuna (bem menor do que antes). O Imperador continuou a elogiá-lo publicamente com frequência e o visconde continuou sendo o candidato favorito nas licitações para construção de obras públicas. Numa carta datada de 11 de agosto de 1889 e endereçada ao Visconde de Santa Vitória (ex-sócio de Mauá), a princesa Isabel chega a dizer o seguinte:

“Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba, porém infeliz, que o Senhor e seu estimado sócio, o grande Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai, tecida pelos ingleses de forma desonesta e corrupta. A queda do Sr. Mauá significou uma grande derrota para o nosso Brasil!”

Sua Senhoria, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, sem grandeza, em uma imagem de 1870 ostentando uma comenda e uma estrela da Imperial Ordem da Rosa.

Quando ela falou que D. Pedro culpou os ingleses pela queda de Mauá ela não estava errada. Lembremos que Mauá era empresário e como qualquer empresário ele tinha concorrência, que evidentemente daria um jeito de derrubar o seu empreendimento quando tivesse a oportunidade, principalmente sabendo que Mauá era o principal concorrente na América do Sul do banco dos Rothschild. Os Rothschild eram a família mais rica do mundo na época e são exemplos do clássico estereótipo do banqueiro. Os Rothschild e seu banco eram tão poderosos que tinham a capacidade de influenciar a política e os governos da Inglaterra e outros países, o que não é incomum para um bilionário nos dias de hoje.

Em Mauá, os Rothschild viram alguém com uma capacidade parecida embora a capacidade de Mauá fosse limitada à América do Sul. Mauá também era poderoso o suficiente para influenciar a política em alguns países daqui da nossa região, em especial Argentina e Uruguai, muitas das vezes influenciando os governos sul-americanos para coisas que eram contra os interesses dos Rothschild na região. Estima-se a fortuna de Mauá no seu auge em 115 mil contos de réis (mais que o orçamento anual do governo imperial), que em valores atuais daria uns 85 bilhões de dólares.

Dizia-se que Mauá era praticamente o dono do Uruguai, quase toda a indústria uruguaia pertencia a ele, a maior parte do gado uruguaio era dele (a principal atividade econômica do Uruguai na época) e o governo de Montevidéu devia fortunas a ele. Devia tanto que era praticamente refém do barão. Mauá tinha a capacidade de influenciar as decisões políticas em Montevidéu e ele alinhou essa sua capacidade com os interesses do governo imperial na região platina.

Barão de Mauá em 1885 aos 72 anos de idade, já intitulado “Sua Excelência, o Visconde de Mauá, com grandeza”.

Como o Uruguai passava por constantes guerras civis na época, Mauá com frequência financiava e apoiava as facções políticas beligerantes que fossem de seu interesse e do interesse do governo do Rio de Janeiro – quando o dinheiro do barão não era suficiente, o Imperador botava as tropas do exército brasileiro pra marchar sobre o Uruguai.

Já os Rothschild ficavam financiando o outro lado – Posteriormente, esse outro lado também começou a receber o apoio de Solano López, o que levou à guerra do Paraguai, que pesou negativamente sobre a economia brasileira ajudando a “quebrar” o barão. Situação parecida rolava na Argentina também.

Assim, nacionalistas uruguaios costumavam não simpatizar com o barão de Mauá e quando as facções apoiadas pelos ingleses tomavam o poder elas começavam a boicotar os negócios do barão na região do Rio da Prata e o governo suspendia o pagamento das dívidas públicas que tinha com Mauá. Isso tudo no longo prazo tornou-se prejudicial para as finanças do barão e contribuiu para a sua derrocada.

Não foi apenas questões externas que levaram à falência de Mauá, teve questões internas também. Mauá não se metia só na política em outros países, se envolveu na política brasileira também tendo sido eleito deputado várias vezes pelo partido liberal. Os negócios dele seguiam o ritmo da bondade ou não daquele que estava no mais alto cargo da nação.

Em 1840 partiu em viagem para Inglaterra, onde teve contato com a realidade capitalista e com as invenções da Revolução Industrial. No ano seguinte, regressou e pediu sua sobrinha em casamento. Casaram-se em 1841 e da união nasceram 12 filhos, dos quais 10 sobreviveram.

Brasão de Armas dos Rothschild

Em 1845, Mauá vendeu sua parte na sociedade e adquiriu uma fundição em Niterói. Construiu um estaleiro no local, iniciando a indústria naval brasileira. Seu patrimônio cresceu e ele investiu em empreendimentos para modernização do Brasil. Nos anos seguintes, promoveu o encanamento das águas do rio Maracanã na cidade do Rio de Janeiro.

Em 1851 fundou a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro.
Em 1852 fundou a Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas e a Companhia Fluminense de Transportes.
Em 30 de abril de 1854, nasceu a primeira ferrovia do país: a Companhia de Estrada de Ferro, ligando o Porto Mauá na baía da Guanabara à encosta da Serra da Estrela. No mesmo dia Dom Pedro II concedeu-lhe o título de “Barão de Mauá”.

O empreendedor também a inaugurou a Estrada de Ferro Dom Pedro II em 1858, atual Central do Brasil, realizou a construção da estrada de ferro que liga Santos a Jundiaí e a instalação de cabos telegráficos submarinos ligando o Brasil à Europa em 1874. No final da década de 1850 fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia.

De posicionamento liberal e abolicionista, Mauá teve problemas com o Império devido aos seus ideais. Seus negócios ficaram abalados pela legislação de taxação de importações que foi implantada e em 1857 o seu estaleiro foi incendiado criminosamente. Seus empreendimentos também sofreram consequências com a crise bancária de 1864.

Mauá foi deputado pelo Rio Grande do Sul, porém renunciou em 1873 para cuidar apenas de seus negócios. Em 1874, foi intitulado “Visconde de Mauá”.

Em 1875 o Banco Mauá foi encerrado, obrigando-o a vender grande parte de seu patrimônio. Diabético e com a saúde debilitada, quitou todas as suas dívidas e trabalhou com o comércio de café.
Faleceu no dia 21 de outubro de 1889 em Petrópolis, Rio de Janeiro.

Partes do texto retirados do InfoEscola, Quora, com adaptações de Renzo Grosso.

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