Acidente Radioativo de Goiânia
Pode parecer inacreditável, mas aquele acidente radioativo de Goiânia em 1987, quando alguns sucateiros acharam um aparelho de raios-x abandonado, é considerado o maior acidente radioativo do mundo fora de uma usina nuclear.
A cápsula radioativa era parte de um equipamento radioterapêutico, dentro do qual se encontrava revestida por uma caixa protetora de aço e chumbo . Esta caixa protetora possuía uma janela feita de irídio, que permitia a passagem da radiação para o exterior. Não é possível conhecer ao certo o número de série da fonte radioativa, mas pensa-se que ela tenha sido produzida por volta de 1970 pelo Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos Estados Unidos. O material radioativo dentro da cápsula totalizava 0,093 kg. O equipamento radioterápico era do modelo Cesapam F-3000 projetado nos anos 1950.
O CASO
Foram apenas quatro mortos diretamente ligados no acidente, mas centenas (ou milhares) de pessoas ainda tem algum tipo de sequela radioativa, mesmo passados mais de 37 anos.
Só para lembrar o caso, Devair Alves Ferreira era o dono de um ferro-velho e encontrou o equipamento de raios-x numa clínica abandonada em Goiânia. Esse equipamento não deveria estar lá e foi esquecido por pura negligência dos proprietários dessa clínica (dizem que o equipamento estava num hospital e foi descartado nessa clínica abandonada). Mas, voltando ao assunto, Devair não sabia o que era e desmontou o equipamento juntamente com Ivo Ferreira (seu irmão) e encontraram uma cápsula de chumbo contendo um “pó azul que brilhava no escuro“.
Esse pó azul era o Césio-137, altamente radioativo e perigoso, que eles ignoravam. Tanto que Ivo o levou para mostrar para sua filhinha que se maravilhou com o “presente”.
Essa criança, Leide das Neves de seis anos, foi a maior contaminada pela radiação e morreu em poucos dias, sem chance de lutar contra o mal. O caixão em que seu corpo foi enterrado era de chumbo e, dizem, permanecerá radioativo por algumas centenas de anos. Há relatos de que ela até chegou a engolir parte do Césio junto com o ovo cozido que ela comia quando lhe deram o “presente“.
Na época, o mestre em energia nuclear e supervisor de radioproteção da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) em Goiás, Cesar Luiz Vieria Ney, disse que se não fosse Maria Gabriela (esposa de Devair), o acidente teria consequências ainda mais graves e só seria descoberto após a morte de mais pessoas.
“Nós ganhamos algumas semanas porque, na verdade, só se ia descobrir pelas vítimas. As pessoas iam adoecer e apresentar aqueles sintomas. Só com o tempo os médicos iriam descobrir que aquilo era efeito de radiação. Ia demorar. Mas ela fez essa associação bem feita, graças a Deus, e foi a heroína, pois não deixou a coisa se prorrogar por mais tempo”, declarou.
A descontaminação da região produziu 13.500 toneladas de lixo atômico, que ainda vão emitir radiação pelos próximos 180 anos.
E tem muito bate-boca com a imprensa e com as autoridades, claro !
Texto de Renzo Grosso.