A Escola Antigamente – Educação em Tempos Comuns
Muita gente confunde a educação nos anos 1970 com a educação durante a ditadura militar.
É verdade que os militares fizeram várias imposições de disciplinas como Educação Moral e Cívica, EPB, OSPB e outras que tiveram sua estrutura modificada para atender à doutrina vigente. Mesmo assim a educação nessa época era ótima. Os professores eram respeitados, os alunos podiam ou não serem aprovados sem que houvesse um pai ou mãe de aluno que intercedesse em prol deste.
E tinham aqueles que viviam na diretoria. Um pai ou mãe ser chamado pela diretoria da escola era uma verdadeira vergonha para a família. Qualquer falta fazia com que os pais fossem chamados. As diretoras eram terríveis: batiam com a régua nos alunos mais exaltados e os pais nada faziam contra essa conduta.
As escolas estaduais eram as melhores. Tinham os melhores professores e os alunos se orgulhavam de estudar numa delas. As Universidades seguiam a mesma toada e formavam sempre bons profissionais, das mais variadas áreas.
Mas voltemos para o ensino. Nessa década de “chumbo“, os alunos deviam fazer a saudação à Bandeira e entoar o Hino Nacional, entre outros, que eram ensinados na disciplina de Educação Moral e Cívica. Além disso se aprendia também sobre os símbolos e valores Nacionais, bem como diversas outras coisas a respeito do país. São coisas sem valor hoje em dia.
Não se cantava o Hino porque a seleção de futebol ia entrar em campo, mas porque era importante sabê-lo acima de tudo. Um norte-americano não coloca a bandeira no jardim porque é bonito ou modinha. Ele o faz porque se orgulha do país .
Claro que também tinha o tenebroso vestibular. Pra quem não é dessa época, o vestibular era um exame feito por cada uma das faculdades (eram muito poucas universidades) e era preciso escolher bem qual exame fazer porque eles, invariavelmente, coincidiam nas datas. Algumas se agrupavam (como o MAPOFEI) e realizavam os exames em conjunto, mas essas eram sempre as mais difíceis de passar. Um curso de medicina, por exemplo, tinha mais de 50 candidatos para cada vaga. Na engenharia eram mais de 20. Não tinha choro: era passar nos exames e torcer para o seu nome sair no jornal. Quem é dessa época lembra ! Era terrível ! E se não foi desta vez, a cadeira do cursinho estava lá esperando…
Hoje em dia temos algumas facilidades como cotas, ENEM e outros. Não que a vida seja fácil, mas é bem mais democrático. Onde praticamente todos os postulantes eram da classe média para cima, hoje todos podem ter a mesma oportunidade. Só para ter uma ideia, há poucos anos fui informado que, para entrar naquela faculdade de engenharia, só era necessário não zerar em nenhuma prova, que era escrita, porque sobravam vagas. Em muitos casos, os cotistas não conseguem acompanhar as matérias e desistem. Em outros casos, os veteranos dão aulas de reforço gratuitas para que eles, cotistas, consigam continuar.
E, e volta aos anos 1970, tínhamos ainda a ESG – Escola Superior de Guerra – que realizava um curso (não lembro a duração) no Rio de Janeiro e era sempre muito disputado por endinheirados e políticos, com palestrantes pinçados no mais alto escalão do país, como ministros, grandes empresários, generais… Estudar na ESG era mais do que uma obrigação naqueles dias e um motivo de grande orgulho. E, para os menos favorecidos e ainda analfabetos, havia o MOBRAL e várias outras iniciativas para alfabetizar o brasileiro.
Nessa época o Brasil viveu o chamado “Milagre Econômico“, capitaneado pelo super-ministro Delfim Netto, e que os críticos dizem não ter sido grande coisa, pois foi algo que aconteceu em boa parte do mundo e não só no Brasil.
Hoje em dia, qualquer coisa faz com que um aluno agrida o professor e este é quem paga o pato. Invariavelmente, os pais desse aluno são pessoas dispostas a qualquer “carteirada” para livrar a pele do filhinho sem pensar no professor ou na escola. Um aluno “problemático” hoje em dia é tratado com psicólogos e os professores, sumariamente demitidos.
A escola é o reflexo da sociedade. Em sua maioria, essa violência toda entre os alunos, vem de jovens que vivem em lares violentos, seja violência física, verbal ou psicológica.
Atualmente os alunos sofrem com milhares de “síndromes” que pipocam todos os dias e sempre são conhecidas pelo nome de algum profissional que primeiro a descreveu. Todos tem algum transtorno, que não existia anos atrás ou até existia, mas era compensado com outras práticas. Não existe reprovação nas escolas públicas porque uma criança não pode ser submetida a esse tipo de experiência, que muitos consideram humilhante.
O mundo está em constante mudança e, esperemos, para melhor. O que era bom ontem, pode não ser bom hoje e voltará a ser bom amanhã.
Texto de Renzo Grosso