O Cofre De Ferro De Luís XVI

Política

O segredo do “armário de ferro“, “cofre” ou “baú” escondido nas dependências do rei Luis XVI e a relação com a sua morte na guilhotina.

Muitos anos antes da revolução, Luís XVI ocasionalmente via um chaveiro trabalhando nos corredores de Versalhes com o nome de François Gamain. Luís XVI era fascinado pelo trabalho e começou a estudar serralheria.

Luís XVI

Luís dedicou muito tempo à isso e realizou bons trabalhos. Quando o rei mostrou uma de suas criações ao amigo Thierry de Ville d’Avray, ele respondeu, profeticamente:

– É muito bom senhor, mas quando um rei faz o trabalho do povo, ocorre que o povo fará o trabalho dos reis.

E a revolução começou meses depois.

Luís perdia poder e aquela história do direito divino acabou indo embora. Cada vez mais ele se via sob o controle de multidões parisienses enfurecidos e líderes revolucionários. Era bem-intencionado, mas não compreendeu o motivo dessa revolução e, sim, tratou de se aliar com reis de outros países para conseguir domar a situação da França.

Em 1791, Luís XVI quis organizar e esconder suas correspondências e achou um lugar perfeito no palácio das Tulherias. Para esse serviço, ele chamou o serralheiro François Gamain. Abriram um buraco na parede, coberto por um painel. Até que, na noite de 22 de maio, o trabalho estava terminado. Gamain estava suando e o rei lhe ofereceu um copo de vinho para se refrescar.

Como as ondas de revolução progrediram, nos meses seguintes houveram desenvolvimentos políticos e sociais cruciais. Os girondinos, que formavam um partido que era a base de apoio a Luís XVI, estavam no poder, mas bem fragilizados. Um outro grupo conhecido como The Mountain, que mais tarde seria chamado “Os Jacobinos“, combatia os girondinos no poder e tinham o inabalável Robespierre liderando o ataque.

A economia instável e a guerra contra a Prússia, na Áustria e, finalmente, em boa parte da Europa, aconteceu em abril de 1792 e complicaram ainda mais o governo dos girondinos. Muita gente pedia a execução do rei e os girondinos, por mais revolucionários que fossem, ainda eram da classe média alta e não queriam cumprir uma medida tão extrema. Então eles resolveram ganhar tempo.

O ministro do Interior, Jean-Marie Roland, achou o serralheiro Gamain que acabou revelando, sigilosamente, a localização do armário de ferro. Roland correu para o palácio, encontrou o armário e examinou seu conteúdo. Houveram dúvidas se ele realmente apresentou tudo ou escondeu cartas dele ou de qualquer um que o envolvesse. Hoje em dia sabemos que esse conteúdo foi devidamente “filtrado“.

Na foto acima, a cabeça de Mirabeau está no esqueleto. À esquerda, Roland contemplando todas essas cartas. À direita, Gamain. E, no topo, Luís XVI vomitando no boné da Liberdade.

Roland apresentou o conteúdo do armário à Convenção Nacional. Haviam centenas de cartas. Entre os envolvidos estavam: Lafayette, Talleyrand, Narbonne, Dumouriez (o vencedor de Valmy) e o conde de Mirabeau. Mirabeau havia desempenhado um papel muito importante na revolução antes de morrer em 1791. Com as novas revelações, seus restos foram removidos do Panthéon.

Luis XVI e Maria Antonieta foram presos próximo da fronteira com a Áustria, quando tentavam fugir. Maria Antonieta era filha de Maria Teresa da Áustria e uma pessoa poderosíssima.

O caso do “armário” foi um escândalo. Várias pessoas foram presas, Lafayette fugiu e Talleyrand foi para a Inglaterra. O rei perdeu totalmente a credibilidade e os gritos contra ele eram mais altos do que nunca.

Luís XVI foi julgado em 11 de dezembro de 1792 e, entre as queixas contra ele, estava o “armário de ferro”. Quando perguntado sobre as cartas e sua própria caligrafia, Luís sempre respondia: “Não me lembro disso”, “Não reconheço isso”, “Não assinei isso”.

Mas o veredito já estava decidido. Luís XVI foi guilhotinado em 21 de janeiro de 1793.

Em 1794, Gamain, que estava desempregado, ainda teve a grande ideia de jogar uma pá de cal sobre o rei. Ele alegou que o ex-rei da França tentou envenená-lo com um copo de vinho. A Convenção não hesitou em conceder uma pensão a ele. Só que Gamain morreu de repente antes de receber qualquer coisa.

Execução de Luís XVI

Muitos historiadores não acreditam que Luís XVI tenha tentado envenenar Gamain, pois esse não era o seu caráter.
E mais uma coisa estranha: O “armário” ou “baú” foi finalizado em maio de 1791. Luís e sua família tentaram fugir de Paris em junho de 1791, um mês depois, e foram presos por isso. É, no mínimo, estranho que esses documentos tenham ficado no palácio, mesmo sabendo que havia uma testemunha: Gamain.

Para alguns historiadores, esse Armário de Ferro teria sido uma pura invenção de “certos revolucionários”. Mas o conteúdo desse suposto armário foi publicado entre dezembro de 1792 e janeiro de 1793, através da Imprensa Nacional, o que, de certa forma, daria alguma veracidade à existência dele. Resta saber se esse “conteúdo” não teria sido forjado para incriminar ainda mais a monarquia.

Texto de Renzo Grosso

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