O Judaísmo Nas Américas e a Invasão Holandesa No Brasil

Cotidiano

A maior comunidade judaica no mundo hoje, além de Israel, está nos Estados Unidos. Mas a primeira sinagoga (foto de capa) e o primeiro rabino das Américas, assim como a primeira comunidade abertamente judaica, se instalaram no Brasil.
Entre 1630 e 1654, um pedaço do Nordeste foi conquistado pelos holandeses, em meio a uma briga entre potências coloniais, a fim de comercializar o açúcar. Nesse episódio, a Holanda tirou Pernambuco das mãos de Portugal. E nesse contexto, parte da comunidade judaica prosperou livremente no calor dos trópicos, sem medo da Inquisição.

A história de Isaac Aboab da Fonseca (foto acima) ilustra a saga judaica de luta pela vida e construção de laços comunitários. Nascido em Portugal, fugiu ainda criança para Amsterdã, onde havia importante comunidade de exilados da Península Ibérica, e se destacou no estudo das tradições judaicas.
Após a invasão holandesa no Brasil, muitos judeus vieram trabalhar no comércio de açúcar e de escravizados em Pernambuco.   Eram senhores de engenho, plantadores de cana, artesãos, médicos e mesmo soldados.
Aboab da Fonseca chega ao Recife em 1642, o primeiro da congregação para ser rabino local, o primeiro das Américas. Mas esse período de florescimento da comunidade judaica no Brasil não dura muito.

E é isto que os estudantes holandeses nem imaginam!

Praticamente todos os holandeses ignoram que, no século 17, houve um período de mais de 20 anos com total controle holandês do nordeste brasileiro. Os holandeses não foram apresentados a essa parte da história, pois, imagina-se, que ela foi propositadamente esquecida. Acredita-se que a causa disso é o constrangimento de terem sido expulsos do Brasil por Portugal em 1654.

Apesar de ser um passado pouco conhecido, a colônia na América do Sul era um dos temas mais importantes para o país europeu e para a geopolítica ocidental do século 17. Os holandeses estavam em guerra contra a Espanha desde 1568, a guerra dos 80 anos, que não ia muito bem. A Companhia das Índias Ocidentais, foi fundada em 1612, com a intenção de estender a guerra contra Espanha, especialmente nas Américas.

Nos anos 1620 a mídia na holandesa começou a preparar a população para um potencial ataque contra o Brasil. Quando o ataque aconteceu em 9 e 10 de maio de 1624, e a notícia chega à Holanda, a reação foi de grande repercussão. Salvador é tomada em 1624, mas perdem o controle dela em 1625. Em 1630 eles conquistam o Recife, e precisam de alguns anos para controlar todo o estado de Pernambuco. Só depois de tomar controle de Pernambuco e regiões vizinhas é que eles se interessam pelo que o Brasil é e pelo que o Brasil tem a oferecer. Nessa história, claro, Maurício de Nassau é uma figura de grande importância, mas que Holanda pouco conhece. O que as pessoas sabem sobre o Brasil hoje em dia é justamente por causa de Maurício de Nassau e as pinturas de Albert Eckhout e Franz Post.

 

Olinda, então cidade mais rica do Brasil Colônia, foi saqueada e destruída pelos holandeses, que escolheram Recife como a capital da Nova Holanda. O mapa (ao lado) de Nicolaes Visscher mostra o cerco a Olinda e Recife em 1630 (CRÉDITO WIKICOMMONS).

 

A cidade de Natal foi rebatizada como Nova Amsterdã, a exemplo de uma cidadezinha americana que servia como entreposto comercial e também chamada assim. Hoje essa cidadezinha se chama Nova Iorque. Outras como Recife e João Pessoa foram rebatizadas como Mauritsstad e Frederikstad respectivamente.

O motivo porque as pessoas na Holanda hoje não sabem nada sobre o Brasil holandês é visto como um paradoxo. Em 1624 e nos anos 1630, a expansão militar era o orgulho nacional e todos eram muito otimistas. Nem se imaginava que os holandeses pudessem perder o Brasil e, quando isso aconteceu, parece que o holandês apagou esse fato da sua história. Os holandeses foram expulsos do nordeste Brasileiro e os judeus foram junto. Até que, o fim do século 19, o Brasil sumiu de vez dos livros de história da Holanda.

Voltando a 1654, muitos judeus retornaram à Holanda levados pelo Calvinismo, que era uma versão mais moderada do Cristianismo, mas uma tormenta fez com que o navio Valk, com cerca de 600 judeus desviasse e contornasse a costa brasileira até o caribe, onde ainda foi saqueado por piratas. O grupo foi resgatado por uma fragata francesa e levado à Jamaica, então colônia espanhola, e acabou preso por causa da Inquisição espanhola.

Mas, graças à intervenção do governo holandês, foram libertados e, por motivos financeiros, parte deles seguiu para um destino mais próximo do que a Europa: a colônia holandesa de Nova Amsterdã, atual Nova York, que como já disse, era um mero entreposto comercial.

Atualmente, a cidade ainda tem um cemitério daquela época com vários túmulos de judeus que vieram do Recife, além de um pequeno monumento em homenagem à eles. E só ! Nenhum livro americano ou holandês revela ou mostra que esses judeus expulsos do Brasil foram os grandes responsáveis pela colônia ali estabelecida. Os livros e a história brasileira enfatizam isso. Já os escritos na América do Norte simplesmente os ignoram, assim como esse cemitério que se encontra abandonado.

 

O Brasil possui a segunda maior comunidade judaica da América Latina, com cerca de 120 mil cidadãos. E foi o Brasileiro Osvaldo Aranha (foto ao lado – Wikipedia) o relator da Resolução 181, da ONU, que criou o Estado de Israel.

O Brasil e os brasileiros mereciam melhores lembranças do que o nome em uma ruazinha e uma praça perdida em Tel Aviv.

Por conta dessas décadas em que os holandeses estiveram no nordeste do Brasil podemos notar a cor clara na pele e o azul nos olhos de muitos cidadãos pernambucanos.

 

 

Fontes (adaptados de):
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56423846

https://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/03/16/antiga-metropole-holanda-nao-lembra-que-dominou-o-brasil-no-seculo-17/

 

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