Impeachment

Política

Apesar de seguir o rito legal, o que tivemos mesmo foi um julgamento político, um verdadeiro circo, comandado por ninguém menos que o presidente do Supremo Tribunal Federal, onde vimos a constituição ser maltratada a ponto de colocar em risco as conquistas que tivemos nos últimos anos.

A Constituição foi esquecida em alguns momentos do processo, como quando resolveram fazer uma segunda votação a respeito da manutenção ou não dos direitos políticos de Dilma. Isso abriu uma brecha, inconstitucional, que vai servir de argumento para outros vários políticos que perderam seus mandatos e, consequentemente, os direitos políticos. Está mais do que claro que houve um acordo. Até o atual senador Collor, cujos direitos políticos foram cassados por conta de seu impeachment em 1992, se pronunciou contra essa medida.

Dilma não cometeu nenhum crime diferente daquele que seus antecessores cometeram. Mas ela não tinha mais a governabilidade, nem o comando político do país.
Não fosse pelo chamado “Centrão” o então presidente Fernando Henrique teria sido para casa antes mesmo de aprovar a Lei que iria permitir a reeleição do Presidente. Tal qual durante o governo Lula, foram inúmeros escândalos como o Sivam, caso Marka/FonteCindam, Sudam, Sudene, Funcef, Mensalão, Valerioduto, dossiês falsos…

O processo de impeachment foi uma festa sem critérios e nem vontade de punir. Mas sobrou corporativismo.
Não é só no Brasil. Essa defesa incondicional entre os políticos não é uma característica nacional. O mundo inteiro faz isso. Veja a Itália com a operação “Mãos Limpas” onde os parlamentares mudaram o entendimento de diversos crimes para esvaziar a investigação e não punir ninguém. Deu certo por lá e já começaram a fazer o mesmo aqui com a “Lava Jato”.

O PMDB é aquele partido oportunista tal qual o urubu, que espera pacientemente a morte do bicho para se alimentar. Foi assim com Tancredo, com Collor e agora com Dilma. É o maior partido do país e é sempre ameaçador. Sem ele não há maioria para nada e, sem maioria, não há governo.

Não é constitucional cassar o mandato de alguém por incompetência, mas parece que tudo conspira contra o brasileiro. O Brasil teve mais uma chance de mostrar competência tanto no governo, como fora dele e não vimos isso acontecer.

No decorrer de 2015, o impeachment passou por um certo esquecimento. Era nesse momento que a recém-reeleita Dilma deveria ter chamado Lula para arrumar a casa. E ele faria com certeza. Com a cassação adormecida, apesar da “Lava Jato”, ela resolveu continuar fazendo o que sempre fez. Isso acordou o Congresso e o impeachmente voltou com força total.

Não importa quem entra ou quem sai. Importa que o Brasil precisa de um comandante de verdade, que se importe mais com o país. Temer pode ser o substituto natural, mas não é a pessoa mais qualificada. O Brasil precisa de reformas sérias e nem um pouco eleitoreiras. São remédios amargos e necessários para sairmos do UTI.

Hoje é dia de (mais uma) manifestação contra Temer. Mas e aí ? Quem ganha e quem perde ?

NE: A imagem é de uma tapeçaria medieval do século XV chamada “A Dama e o unicórnio”, composta por seis tapetes.  Este chama-se “Ao meu único desejo” e o único que contem algo escrito. Os demais representam os cinco sentidos e estão expostos no Museu Medieval de Cluny, em Paris.  Esse nome pode servir muito bem como um epíteto aos envolvidos.

 

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