Ático e o Parigi

Diversos

Os restaurantes da cidade de São Paulo produzem diariamente todo tipo de pessoas que já viraram quase uma lenda entre os habitués. São ou foram locais de verdadeira veneração não apenas do paulistano, mas de todos os que visitam a mais cosmopolita das cidades brasileiras. Templos onde se come e se bebe do melhor e que não deixa a desejar nada aos melhores lugares do mundo.

O sempre simpático Massimo Ferrari recebia a todos os clientes no seu restaurante Massimo (fechado em 2013) com suspensórios à mostra e o mesmo sorriso estampado no rosto, que parecia jamais sair de lá. Não há notícia de alguém que o tenha visto de outra forma, já que eram suas marcas registradas.

O Massimo, na Alameda Santos, era uma referência, mas nenhum outro pode se igualar ao glorioso Restaurante Ca’ d’Oro, que ficava no hotel de mesmo nome no baixo Augusta e que, durante a semana, exigia terno e gravata de seus clientes. E, falando nele, é inevitável a lembrança do baiano Ático Alves de Souza, que passava com seu carrinho aquecido entre as mesas.

De faxineiro a barman, quando este faltava, Ático foi tomando gosto pela boa mesa e pela qualidade do restaurante onde trabalhou por 37 anos. Ali, Ático servia o irrepreensível bollito misto (veja a receita aqui) acompanhado da deliciosa mostarda de cremona (veja a receita aqui). O hotel fechou (veja a abaixo), junto com o restaurante, mas a lenda foi resgatada por Rogério Fasano, no Restaurante Parigi de São Paulo, onde ele continua a servir os mesmos pratos e da mesma forma.

Ático é mesmo uma lenda no ramo. Com quase 90 anos, ele ainda faz questão de trabalhar servindo seu bollito no Parigi, com a mesma simpatia e dedicação dos áureos tempos.

Ele serviu a vários presidentes, personalidades nacionais e estrangeiras e recebeu do então ministro Almir Pazzianoto a condecoração de “Cavaleiro de Ordem ao Mérito do Trabalho“. Tentou até se aposentar, mas o chamado de Rogério Fasano falou mais alto. Ático tinha prazer no que fazia. Adorava receber seus clientes, conhecia a maioria deles pelo nome e tratava para que eles se sentissem as pessoas mais importantes do restaurante.

É um homem modesto que aprendeu a jamais aceitar elogios dos clientes e nunca ensinar coisa alguma a eles.  Ele é uma unanimidade entre os amantes da boa mesa.

Vale a visita !

Notas:
O Hotel Ca’ d’Oro foi demolido e, em seu lugar, está sendo erguido um complexo de escritórios, apartamentos e um novo hotel e restaurante Ca D´Oro (projeto da Brooksfield, a antiga Brascan, ou Brazilian Traction, Light and Power Co.Ltd., de Toronto, no Brasil em 1890). Situado no baixo Augusta, a região está ganhando investimentos e melhorias para voltar ao glamour do passado.

O Massimo fechou em 2013.
O fim começou em 2007, após Massimo se desentender com o irmão Venâncio e deixar a administração. Massimo dava alma ao lugar e era um dos maiores anfitriões que a cidade e o país já conheceram.

Massimo toca uma rotisseria que leva o nome de seus pais: Felice e Maria.

Edição posterior:

Ático Alves de Souza faleceu em 17/01/22, aos 95 anos. Era o maître mais antigo de SP.
Veja aqui:
https://revistamarieclaire.globo.com/Noticias/noticia/2022/01/atico-alves-de-souza-maitre-mais-antigo-de-sao-paulo-morre-aos-95-anos.html
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2022/01/23/como-foi-o-ultimo-dia-de-trabalho-de-atico-o-maitre-mais-antigo-de-sp.htm

Imagens: Renzo Grosso

Anúncios

Deixe um comentário